Afegãos de forças estrangeiras estão seguros desde que ‘mostrem remorso’, diz Taleban

Pelo menos 18 mil afegãos já solicitaram vistos especiais para deixar o país em meio à saída das tropas estrangeiras

Os cidadãos afegãos que trabalharam para forças estrangeiras no país estarão seguros, mas para isso precisam “mostrar remorso”, disse o Taleban em comunicado ao qual teve acesso a agência catari Al-Jazeera nesta segunda (7). O grupo pediu que esses civis não tentem deixar o país.

“Eles não correrão nenhum perigo da nossa parte”, diz o documento. “O Emirado Islâmico gostaria de informar a todas as pessoas que elas devem mostrar remorso por suas ações passadas e não devem se envolver em tais atividades no futuro, pois equivalem a traição contra o Islã e o país”.

Afegãos nas forças estrangeiras estão seguros desde que 'mostrem remorso', diz Taleban
Operação das forças estrangeiras na província de Helmand, Afeganistão, em dezembro de 2009 (Foto: Divulgação/Helmandblog/Paul Smyth)

A declaração ocorre em meio à retirada das forças dos EUA e da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) do Afeganistão. O prazo, previsto anteriormente para encerrar em fevereiro, foi estendido até 11 de setembro.

Milhares de afegãos trabalharam como intérpretes, guardas de segurança e auxiliares para as forças estrangeiras nos últimos 20 anos. Eles temem retaliação do Taleban após a saída das tropas.

Pelo menos 18 mil afegãos já solicitaram vistos especiais para deixar o país, disse a embaixada dos EUA em Cabul. Um número incerto já foi reassentado nos países para os quais trabalharam.

Terrorismo contra ex-funcionários

A organização não-governamental norte-americana No One Left Behind aponta que cerca de 300 civis que trabalharam como funcionários locais para as forças armadas dos EUA no Afeganistão foram mortos desde 2016.

O Taleban já classificou esses trabalhadores como “traidores” e “escravos”. A nota mais recente, porém, afirma que os civis só eram qualificados desta forma quando “operavam diretamente nas fileiras dos inimigos”. “Mas quando eles abandonarem as fileiras inimigas e optarem por viver como afegãos comuns em sua terra natal, não enfrentarão nenhum problema”, diz o texto.

Um ex-intérprete que trabalhou com as forças dos EUA entre 2018 e 2020 disse à AFP que os funcionários antigos e atuais já estão sendo rastreados. “O Taleban não nos perdoará. Eles vão nos decapitar”, disse.

Mais de 2,3 mil militares norte-americanos morreram na guerra do Afeganistão – a mais longa dos EUA. O envio das tropas ao país moldou a característica da política externa dos EUA com o então presidente George W. Bush após os ataques terroristas de 11 de setembro.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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