Alemanha prende líder de milícia síria acusado de crimes contra a humanidade

Grupo liderado pelo acusado é suspeito de sequestros e agressões e de apoiar um ala da inteligência responsável por dezenas de execuções

Foi preso na quarta-feira (2), na cidade de Bremen, na Alemanha, um homem identificado apenas como Ahmad H. Suspeito de liderar uma milícia envolvida na guerra civil da Síria, ele é acusado de crimes contra a humanidade. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

De acordo com a Promotoria de Justiça da Alemanha, que anunciou a detenção somente na quinta (3), Ahmad liderava uma milícia aliada ao presidente sírio Bashar Al-Assad. O grupo atuou entre 2012 e 2015 em Tadamon, um subúrbio de Damasco, a capital do país, e teria cometido uma série de crimes.

De acordo com a acusação, a milícia costumava estabelecer postos de controle em diversos pontos de Tadamon. Neles, “as pessoas eram presas arbitrariamente para que elas ou seus familiares pudessem ser extorquidos em dinheiro, submetidos a trabalhos forçados ou torturados”, segundo a Promotoria.

Criança atingida por bombardeios em Homs, Síria, fevereiro de 2020 (Foto: Unicef/Abdulaziz Al-Droubi)

Em dada ocasião, Ahmad teria ordenado a seus subordinados que “atormentassem brutalmente”, com um cano de plástico, um homem detido em um desses postos de controle. Outra vítima supostamente teve a cabeça batida contra a calçada antes de ser levada pelo grupo.

Mais uma denúncia que pesa contra a milícia diz respeito a um grupo de 25 a 30 pessoas forçadas a carregar sacos de areia para a linha de frente em meio a fogo cerrado da guerra civil, sem direito a água ou comida e sob constantes agressões.

O destacamento comandado por Ahmad teria ligação, ainda, com uma ala da inteligência militar síria acusada de executar ao menos 47 pessoas.

Embora nem as vítimas nem o acusado sejam alemães, os crimes cometidos por Ahmad serão julgados no país europeu com base no princípio da jurisdição universal, frequentemente usado por tribunais da Alemanha para casos de crimes de guerra e contra a humanidade.

Por que isso importa?

A guerra civil na Síria, que já dura mais de 12 anos, opõe Rússia e Irã, aliados do presidente Bashar Al-Assad, à Turquia, que apoia os rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS) na luta contra o governo. Centenas de milhares de pessoas morreram durante a guerra, que varreu a nação e deslocou mais da metade da população, que era de 23 milhões de pessoas.

Desde 2011, a oposição e líderes ocidentais exigem a queda de Assad, a quem acusam de crimes contra a humanidade. Apoiadores do líder sírio, por outro lado, criticam o que consideram uma interferência de Washington com o intuito de derrubar o presidente.

Após sofrer duras perdas no início do conflito, Assad conseguiu reconquistar território graças à ajuda de seus aliados. A última região com forte presença da oposição armada inclui áreas da província de Idlib e partes das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia.

Em 2020 foi estabelecida uma trégua intermediada por Rússia e Turquia. Ela inclui os rebeldes e as forças do governo, enquanto grupos extremistas como o Estado Islâmico (EI) não fazem parte do pacto.

Apesar da trégua, ataques esporádicos continuam a ocorrer, inclusive com operações militares aéreas lideradas por Moscou. Nesse período, Ancara conseguiu consolidar sua influência no norte da Síria, o que ajudou a evitar uma nova etapa de combates e controlou o fluxo de refugiados.

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