A remoção de discursos dos líderes do Estado Islâmico (EI) do TikTok não impede que o discurso extremista seja disseminado, mostrou reportagem da rede Sky News.
Mesmo quando o conteúdo original associado a esses ideólogos é retirado, a funcionalidade de “som original” da plataforma de vídeos permite que o áudio continue disponível através do conteúdo criado por outros usuários. Isso resultou na disseminação de centenas de vídeos, todos utilizando os “sons originais” de lideranças terroristas, que se proliferam na plataforma.
Por exemplo, um usuário do TikTok aparece em uma foto segurando duas crianças. Em outra, ele está em uma academia, treinando com um saco de pancadas. À primeira vista, o conteúdo visual parece inofensivo, mas o áudio não é.
O som consiste em um discurso em árabe, combinado com um canto ao estilo a capella (música vocal sem acompanhamento instrumental) conhecida como nasheed. Embora os nasheeds sejam comuns no mundo islâmico e não estejam necessariamente ligados a nenhuma ideologia específica, este em particular foi criado para apoiar o Estado Islâmico.
Devido à forma como o TikTok opera, é fácil encontrar conteúdo relacionado. Ao clicar na música, ela funciona como uma hashtag de áudio, exibindo todos os outros vídeos que utilizam o mesmo som.
No TikTok, há 439 vídeos interligados pelo uso desse som específico. Muitos desses conteúdos contêm imagens de figuras conhecidas do Estado Islâmico, como Mohammed Emwazi, mais conhecido na mídia ocidental como “Jihadi John”, morto por um ataque de drones nos EUA em 2015.
Alguns desses vídeos mostram cenas de regiões controladas pelo EI no Iraque e na Síria, enquanto outros apresentam capturas de tela de mensagens divulgadas pelo canal oficial de comunicação do grupo.
Um dos nasheeds do Estado Islâmico mais populares e visualizados no TikTok é uma versão de “Dawlati Baqiyah”, música que aborda as perdas sofridas pelas forças do EI devido à coalizão liderada pelos EUA.
Entre 16 e 18 de junho deste ano, uma pesquisa do think tank Institute for Strategic Dialogue (ISD) identificou 55 vídeos no TikTok que apresentavam ideólogos da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, utilizando uma simples busca pelos nomes deles. Esses vídeos acumularam mais de 1,1 milhão de visualizações. Cerca de 60% dos vídeos usavam “sons originais”. Além disso, 230 outros vídeos na plataforma também usaram esse áudio, obtendo mais de 664 mil visualizações.
As descobertas principais da pesquisa do ISD indicam que usuários que desejam disseminar conteúdo terrorista por meio de sons originais frequentemente utilizam títulos enganosos ou inofensivos para evitar a moderação. Ao usar títulos inofensivos, os vídeos acabam atraindo mais espectadores, pois muitos usuários não sabem a verdadeira origem do áudio. Títulos enganosos também permitem que vídeos relacionados ao EI e à Al-Qaeda permaneçam na plataforma, mesmo que o vídeo original seja removido.
Não é a primeira vez que o TikTok tem dificuldades para identificar e remover vídeos associados ao Estado Islâmico ou à Al-Qaeda. Em junho de 2023, uma pesquisa do ISD mostrou que o conteúdo do EI estava se espalhando na plataforma. Naquela época, os problemas com a função de sons originais foram destacados como um “desafio significativo para a moderação”.