Apoio do Irã viabiliza ataques dos Houthis e desafia as defesas norte-americanas

Analistas dizem que grupo rebelde usa tecnologia iraniana em suas armas e com elas testa os limites do sistema antiaéreo dos EUA

Relatório divulgado na terça-feira (6) pela Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês), de Washington, apresentou novos detalhes sobre a colaboração militar entre o Irã e os Houthis. O documento reforça a alegação de que os rebeldes usam mísseis e drones de origem iraniana para atacar navios no Mar Vermelho, e a contraofensiva liderada por EUA e Reino Unido não tem conseguido frear a agressão. Segundo analistas ouvidos pela rede Voice of America, essa aliança pode futuramente se tornar um problema para as Forças Armadas norte-americanas.

“A análise confirma que as forças dos Houthis empregaram vários mísseis de origem iraniana e veículos aéreos não tripulados (VANTs) contra alvos militares e civis em toda a região”, afirma o relatório da DIA, acrescentando que a colaboração militar entre a República Islâmica e a organização rebelde é cada vez mais estreita.

A parceria entre ambos teria começado em 2014, com o fornecimento de armas e treinamento aos rebeldes iemenitas pela Força Quds, o braço de operações no exterior do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica iraniana.

“A ajuda do Irã permitiu aos Houthis conduzir uma campanha de ataques com mísseis e VANTs contra a navegação comercial no Mar Vermelho desde novembro de 2023”, segundo o documento.

Míssil balístico exibido em desfile de comemoração da Semana da Sagrada Defesa, que lembra a guerra entre Irã e Iraque, Teerã, 2019 (Foto: WikiCommons)

Teerã nega o fornecimento de armas aos rebeldes, mas o governo norte-americano alega ter analisado imagens recentes e antigas, através das quais é possível associar mísseis e drones fabricados pelo Irã àqueles que vêm sendo usados atualmente pelos Houthis no Mar Vermelho.

Embora em muitos casos não sejam exatamente as mesmas armas, a tecnologia é semelhante, o que sugere a colaboração. É o caso dos drones Sammad operados pelos Houthis, que seriam uma versão do iraniano Sayad. Já os modelos Waid usados pelos rebeldes têm características idênticas às dos iranianos Shahed, adotados também pela Rússia na guerra da Ucrânia.

Constatação semelhante foi feita sobre os mísseis balísticos disparados contra navios no Mar Vermelho, que carregam diversas semelhanças com modelos iranianos. São, inclusive, armas com capacidade para atingir Israel, de acordo com a DIA.

O alerta dos especialistas

Bruce Reidel, um ex-oficial da CIA (Agência Central de Informação, da sigla em inglês) que hoje trabalha em um think tank de Washington, afirma que os Houthis podem até não ter acesso direto às arma iranianas, mas a tecnologia empregada na construção de seu arsenal saiu de Teerã.

“O relatório da DIA sublinha como os Houthis têm obtido tecnologia iraniana há mais de uma década e a modificam para construir seus próprios mísseis e drones”, afirmou Reidel. “As capacidades dos Houthis não são altamente sofisticadas e podem ser facilmente substituídas por materiais já existentes no Iêmen.”

Brian Carter, analista de outro think tank norte-americano, o American Enterprise Institute, diz que a longo prazo a parceira entre Irã e Houthis pode criar problemas para as forças norte-americanas, cuja defesa antiaérea vem sendo testada pelos ataques da organização iemenita.

“Com o tempo, o Irã e seus parceiros, aliados e representantes estão construindo uma imagem muito completa dos pontos fortes e fracos das defesas antiaéreas desenvolvidas pelos EUA”, afirmou o especialista. “Isso é algo que eles poderão usar no futuro para atingir as forças e os interesses dos EUA.”

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