Após entra e sai da prisão, ativista iraniana é condenada por criticar o aiatolá

Desde novembro de 2018, Sepideh Gholian foi presa em três ocasiões diferentes e passou apenas um mês em liberdade

Desde 2018, a vida da ativista iraniana Sepideh Gholian tem sido um constante entra e sai da prisão. Em março deste ano, ela foi detida pela terceira vez em um intervalo de quase cinco anos, e agora a Justiça do Irã confirmou uma pena de mais dois anos de reclusão imposta por criticar o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Gholian foi presa pela primeira vez em novembro de 2018, ao participar de uma greve na indústria de açúcar Haft Tappeh. Na ocasião, as autoridades detiveram muitos ativistas e trabalhadores, que logo foram libertados sob fiança. Ela, porém, passou cerca de um mês detida.

Então, em janeiro de 2019, apenas um mês após ter sido solta, a ativista foi novamente encarcerada, sob a acusação de participar de uma conspiração ocidental para derrubar o governo. A TV estatal chegou a exibir uma vídeo de confissão, que ela alega ter sido obtida sob tortura.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã (Foto: WikiCommons)

Em março deste ano, Gholian foi novamente solta, mas passou apenas quatro horas em liberdade. Ao deixar a prisão de Evin, disparou críticas ao líder supremo do país: “Khamenei, tirano, vamos enterrá-lo no chão”, gritou ela.

Um vídeo com o protesto foi publicado nas redes sociais e atraiu a atenção das autoridades, que quatro horas após a libertação prenderam novamente a ativista. Julgada, acabou condenada a mais dois anos de prisão, sentença que foi confirmada na terça-feira (11) por um tribunal de apelações em Teerã.

Além da reclusão, ela sofreu penas adicionais, todas válidas por dois anos após a libertação. Não poderá ter acesso a um smartphone, fica proibida de residir em Teerã ou em províncias vizinhas e não terá o direito de participar de partidos políticos ou grupos sociais registrados.

“A sentença emitida para Sepideh pela Seção 26 do Tribunal Revolucionário Islâmico de Teerã por entoar slogans durante dez segundos de vídeo na porta da prisão de Evin (após apenas alguns segundos de liberdade) foi confirmada pelo tribunal de apelações”, disse o irmão da ativista.

Gholian já havia dito, durante encarceramento anterior, que não reconhece a legitimidade dos “julgamentos simulados” pelo governo do Irã e que se recusa a tomar parte em qualquer procedimento judicial enquanto Teerã mantiver a política repressiva contra ativistas e dissidentes.

Levante popular

Desde setembro de 2022, o Irã vive um levante popular contra o governo iniciado após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab. Agredida sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Após a morte da jovem, manifestações começaram no Curdistão, província onde ela vivia, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

“A máquina de matar do governo está acelerando”, afirmou Mahmood Amiry Moghaddam, diretor da ONG Direitos Humanos do Irã (IHR, na sigla em inglês). “O objetivo é intimidar as pessoas, e as vítimas são as pessoas mais fracas da sociedade”, acrescentou, referindo-se ao fato de que a maioria dos condenados pertence a minorias étnicas iranianas.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

Tags: