Brasil faz coro com a ONU e contesta decisão de aliados ocidentais de cortar ajuda a palestinos

Mais de US$ 400 milhões deixaram de ser entregues devido à acusação de que funcionários da UNRWA ajudaram o Hamas a atacar Israel

A denúncia feita por Israel de que funcionários da ONU (Organização das Nações Unidas) participaram do ataque do Hamas ao Estado judeu, em 7 de outubro de 2023, levou diversos países a cancelarem a verba que forneciam à Agência de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). A decisão foi criticada pelo secretário-geral António Guterres, e agora o Brasil seguiu pelo mesmo caminho.

Na quarta-feira (31), o Itamaraty emitiu uma nota na qual contesta a decisão de cortar o financiamento. “As referidas denúncias não devem, entretanto, ensejar redução das contribuições imprescindíveis ao funcionamento da UNRWA, em cenário que pode levar ao colapso das atividades da agência.”

Campo de refugiados da UNRWA em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza (Foto: Abed Zaqout/Unicef)

No final da semana passada, a ONU disse que abriu uma investigação para apurar a possível participação de funcionários da UNRWA nos ataques. Segundo Guterres, os contratos dos trabalhadores suspeitos foram imediatamente rescindidos, a fim de “proteger a capacidade da agência de prestar assistência humanitária.”

Com a investigação em curso, países que ajudavam a manter a agência em funcionamento decidiram suspender a entrega de verba. Principais mantenedores da agência, com US$ 343,9 milhões entregues em 2022, segundo a agência Al Jazeera, os EUA puxam a fila. Os demais países que decidiram parar de pagar são Canadá, Austrália, Reino Unido, Alemanha, Itália, Holanda, Suíça, Finlândia, Estônia, Japão, Áustria e Romênia.

Ao criticar a decisão, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro alega que, a partir do início da guerra, desencadeada pela invasão do Hamas, “a UNRWA realiza atendimento vital a mais de 1,4 milhão de pessoas na Faixa de Gaza”. Afirma também que “152 funcionários da Agência em Gaza foram mortos desde o início da ofensiva militar israelense em resposta aos atos terroristas do Hamas.”

O comunicado do Itamaraty acrescenta que a suspensão da verba, liderada por Washington, desrespeita a “recente decisão, de caráter juridicamente vinculante”, anunciada pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) “sobre o imperativo de garantir o acesso humanitário aos cidadãos de Gaza. A população civil palestina na região e os esforços de ajuda humanitária têm na UNRWA um ponto de apoio indispensável.”

A manifestação brasileira acompanha o posicionamento da ONU, segundo a qual a agência é a “espinha dorsal” da resposta humanitárias em Gaza. A entidade alega que o corte de verbas atinge o montante de US$ 440 milhões,

“É difícil imaginar que os habitantes de Gaza sobreviverão a esta crise sem a UNRWA”, disse Thomas White, diretor de assuntos da UNRWA em Gaza e vice-coordenador humanitário da ONU para o Território Palestino Ocupado. “Recebemos relatos de que as pessoas na área estão moendo ração para pássaros para fazer farinha.”

Guterres, então, pediu que a decisão seja revista. “Apelo a todos os Estados-Membros para que garantam a continuidade do trabalho de salvamento de vidas da UNRWA”, disse o secretário-geral, falando na quarta-feira (31) ao Comitê dos Direitos Palestinos.

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