Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News
A ameça que paira sobre a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) não se resume a disparos de projéteis, mísseis e explosivos, ela inclui também a utilização da desinformação como arma.
Para o subsecretário-geral da ONU para Operações de Paz, o fenômeno representa um “grande perigo” para os soldados de manutenção da paz que estão na linha de fogo do conflito entre o movimento Hezbollah e as Forças de Defesa Israelenses (IDF).
Narrativas falsas sobre o mandato da Unifil
Jean-Pierre Lacroix se disse alarmado pela magnitude do problema. De acordo com ele, uma das estratégias é gerar confusão sobre o papel da Unifil no terreno.
O chefe das Operações de Paz relatou a existência de diversas mensagens “bastante falsas sobre o que realmente a Unifil fez, não fez, poderia fazer ou não poderia fazer”.
Ele esclareceu que a missão tem o papel de apoiar uma solução política na região e não de impô-la, como alegam narrativas distorcidas. As forças de paz seguem mandato definido pela resolução 1701 do Conselho de Segurança. O texto afirma que são as partes em conflito as responsáveis pela implementação de uma eventual solução.
Restrições ao uso de tecnologias
Outro exemplo de como a desinformação afeta as forças de paz diz respeito à restrições na capacidade de patrulhamento.
Segundo Lacroix, no passado “uma onda de desinformação” interrompeu uma tentativa da Unifil de instalar câmeras para melhorar o monitoramento na Linha Azul, área de 120 km que controla temporariamente ao longo da fronteira sul do Líbano e da fronteira norte de Israel.
De acordo com ele, eram dispositivos de baixa tecnologia, mas mesmo assim as narrativas falsas impediram a aceitação da iniciativa pelas partes envolvidas. Nesse sentido a missão sofre com limitações tecnológicas, sem poder adotar novas ferramentas como câmeras e drones.
Oito soldados de paz feridos
O subsecretário-geral também abordou ataques recentes à posições da Unifil dizendo que eles são “inaceitáveis” e constituem uma violação do direito internacional.
Ele afirmou que proteger a segurança das forças de manutenção da paz “não é uma opção, é uma obrigação”. Desde o início da operação terrestre israelense no sul do Líbano, oito soldados de paz foram feridos.
A Unifil é composta por homens e mulheres de mais 40 países, de todos os continentes. Para Lacroix, todos estão muito empenhados em cumprir seu mandato com “motivação, resiliência e força”.
Mantendo as posições na Linha Azul
Comentando o pedido das autoridades israelenses para que as forças de paz se afastassem cinco quilômetros da Linha Azul, o subscretário-geral disse que houve uma decisão muito ponderada de permanecer nas posições originais.
De acordo com ele, os motivos foram o dever de cumprir o mandato e a percepção de que “caso as posições ao longo da Linha Azul fossem abandonadas, elas seriam ocupadas por uma parte ou por outra”.
Lacroix ressaltou que isso seria muito ruim para a imagem de imparcialidade e neutralidade das Nações Unidas.
O chefe das Operações de Paz esclareceu que embora a missão tenha limitações para operar em meio a combates intensos, permanecem ativas as funções de observar e relatar o que ocorre na linha de frente e de assistência à população.
O papel da missão
Nesse sentido, ele citou a importância da liberdade de movimento, que tem sido limitada pela destruição de edifícios, aldeias e estradas. Segundo Lacroix, a Unifil tem feito inúmeros esforços para remover bloqueios e assim assegurar a movimentação de pessoas e bens essenciais e manter ativo o patrulhamento.
O chefe das Operações de Paz destacou ainda que a missão têm feito muito para apoiar, por exemplo, a evacuação médica, ajudando os civis que precisam se deslocar de um lugar para outro. Ele adicionou que isso está sendo feito em estreita coordenação com as Forças Armadas Libanesas e com as Forças de Defesa Israelenses.
Uma vez que os dois lados em conflito concordem em um cessar-fogo e em negociar uma solução política, a Unifil terá um papel ainda mais importante de mediar diálogos, assessorar o processo de implementação e dirimir desentendimentos.
Para Lacroix, é exatamente isso que a missão tem feito nos últimos anos, impedindo que pequenos incidentes se transformassem em grandes conflitos.
O subsecretário-geral afirmou que já é tempo de cessar fogo no Líbano e que existem sim existem esforços diplomáticos em curso nesse sentido.