Egito propõe plano de reconstrução de Gaza sem deslocamento da população

Proposta se contrapõe à de Donald Trump, que falou em despovoar a região para então repassar o controle aos Estados Unidos

O governo egípcio está articulando um plano para reconstruir a Faixa de Gaza sem remover os palestinos do território, em contraposição à proposta do ex-presidente norte-americano, Donald Trump, que sugeriu o despovoamento da região para que os EUA pudessem administrá-la. A proposta egípcia prevê a criação de “zonas seguras” dentro do enclave, onde a população poderia permanecer durante os trabalhos de reabilitação da infraestrutura. As informações são da Associated Press.

Segundo o jornal estatal egípcio Al-Ahram, empresas egípcias e internacionais seriam responsáveis pela remoção dos escombros e pela reconstrução, garantindo que os palestinos possam continuar vivendo na região. Fontes egípcias e diplomáticas confirmaram que o plano tem sido discutido com representantes da Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e países europeus. Também está em avaliação a organização de uma conferência internacional para arrecadação de fundos destinados à reconstrução de Gaza.

A proposta surge em meio às críticas internacionais ao plano de Trump, que previa a remoção dos cerca de 2 milhões de palestinos de Gaza para a criação de uma “Riviera do Oriente Médio” sob controle americano. Os palestinos rejeitaram amplamente essa ideia, assim como o Egito e a Jordânia, que também se opuseram à pressão dos EUA para acolherem refugiados. Organizações de direitos humanos classificaram o plano como uma expulsão forçada, potencialmente configurando um crime de guerra.

Cerca de 250 mil unidades habitacionais foram destruídas ou danificadas no território palestino (Foto: WikiCommons)

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apoiou a proposta de Trump e afirmou que Israel se prepara para sua implementação. Em contrapartida, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou durante uma visita à Arábia Saudita que Washington estaria disposto a considerar propostas alternativas.

O Al-Ahram destacou que o plano do Egito busca rebater a lógica da proposta do chefe da Casa Branca e impedir qualquer tentativa de alterar a estrutura geográfica e demográfica da Faixa de Gaza.

Desafios para a reconstrução

A reconstrução de Gaza depende diretamente do avanço nas negociações de cessar-fogo entre Israel e Hamas. A primeira fase do acordo está prevista para terminar em março, e a segunda fase incluiria a retirada completa de Israel do território, a libertação de reféns e uma solução de longo prazo para a administração de Gaza.

O plano egípcio propõe a formação de uma administração palestina independente tanto do Hamas quanto da Autoridade Palestina para gerir a reconstrução. Além disso, prevê a criação de uma força policial composta por ex-agentes da Autoridade Palestina ainda presentes no território, com treinamento egípcio e ocidental.

Há discussões sobre a possibilidade de uma força árabe atuar em Gaza, mas diplomatas da região afirmam que essa opção só seria viável se houvesse um compromisso concreto para o estabelecimento de um Estado palestino independente, algo rejeitado por Netanyahu.

Por sua vez, o Hamas indicou que estaria disposto a abrir mão do poder em Gaza, aceitando um governo de unidade palestino sem sua participação ou um comitê de tecnocratas para administrar o território. Entretanto, a Autoridade Palestina, que controla partes da Cisjordânia, tem se mostrado contrária a qualquer solução que a exclua.

Envolvimento internacional

Países europeus, como França e Alemanha, manifestaram apoio à ideia de que os países árabes desenvolvam uma contraproposta ao plano de Trump. O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, discutiu o assunto com seu homólogo francês, e o ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, apresentou a proposta a autoridades da União Europeia durante a Conferência de Segurança de Munique.

Egito, Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e Jordânia devem debater a proposta em uma reunião em Riad nesta semana, antes de levá-la à cúpula árabe no final do mês.

Impacto da guerra e previsão de reconstrução

A guerra entre Israel e Hamas, iniciada em outubro de 2023, devastou Gaza. Segundo estimativas da ONU, cerca de 250 mil unidades habitacionais foram destruídas ou danificadas, mais de 90% das estradas foram comprometidas e 80% das unidades de saúde foram afetadas. Os danos gerais à infraestrutura chegam a US$ 30 bilhões, com perdas adicionais de US$ 16 bilhões na habitação.

O plano egípcio propõe uma reconstrução em três fases ao longo de cinco anos, mantendo os palestinos em Gaza. No período inicial de seis meses, serão estabelecidas três “zonas seguras” com moradias temporárias e ajuda humanitária. Mais de vinte empresas egípcias e internacionais estariam envolvidas na reconstrução, gerando milhares de empregos para a população local.

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