Ganhadora do Nobel da Paz diz que “processo revolucionário” no Irã é irreversível

"Este processo revolucionário é como um trem que não para até chegar ao seu destino final", declarou a advogada Shirin Ebadi

A onda de protestos que tomou as ruas do Irã nos últimos meses, desde a morte em setembro da jovem Mahsa Amini, deu início ao um “processo revolucionário” irreversível que levará ao colapso da República Islâmica. Essa é a opinião da advogada iraniana Shirin Ebadi, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2003, que concedeu entrevista à agência Reuters.

“Este processo revolucionário é como um trem que não para até chegar ao seu destino final”, disse Ebadi, segundo quem em nenhum momento até hoje o governo teocrático iraniano enfrentou um desafio desse porte.

Ebadi, que vive exilada em Londres, ganhou o Nobel por seu trabalho em defesa dos direitos humanos. Crítica ferrenha de Teerã desde a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o governo pró-Ocidente do xá Mohammad Reza Pahlavi, ela tem sido forte defensora das manifestações populares registradas no país nos últimos meses.

A advogada iraniana Shirin Ebadi, ganhador do Nobel da Paz de 2003 (Foto: WikiCommons)

O governo vem reagindo às manifestações com violência, com relatos de mais de 500 pessoas mortas pelas mãos de agentes estatais, incluindo ao menos 71 menores de idade. Os dados foram divulgados nesta semana pela agência de notícias ativista HRANA.

Também foram registradas dezenas de sentenças de morte impostas a manifestantes, sendo que ao menos quatro enforcamentos já aconteceram. Mais de 19 mil pessoas foram detidas até agora por participação ou ligação com os protestos, com quase 800 delas julgadas e condenadas a penas que somam mais de 13 mil anos de prisão.

“Os protestos tomaram uma forma diferente, mas não terminaram”, disse Ebadi, acrescentando a crise econômica no país aos ingredientes que tornam a mobilização popular incontrolável.

Segundo a advogada, o próximo passo cabe às nações ocidentais, que deveriam adotar “medidas práticas”, como retirar seus embaixadores de Teerã e evitar firmar qualquer tipo de acordo com o governo iraniano.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. A entidade condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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