Guerra na Ucrânia complica situação de sírios, diz especialista brasileiro

Presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre Síria menciona desvio de atenções e apoios como impacto da situação ucraniana

Perto de se completarem 12 anos desde o início do conflito, 90% da população da Síria vive na pobreza. O presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre o país, Paulo Sérgio Pinheiro, citou novos conflitos, tensões entre os envolvidos nas negociações e incertezas sobre refugiados como problemas que aumentam o sofrimento no país.

“A situação se tornou extremamente complicada por causa do conflito na Ucrânia. A Síria, de certa forma, tem sido esquecida. O tratamento dado aos refugiados sírios, infelizmente, não é o mesmo dado aos refugiados ucranianos”, disse Pinheiro, destacando que muitos refugiados estão há mais de dez anos longe de casa.

Segundo ele, não cabe qualquer crítica ao tratamento dedicado aos ucranianos que fogem da guerra. Mas é preciso equilibrar a balança. “Há muito que as agências podem fazer nesse sentido. Eu cito especialmente, por exemplo, o Unicef, que tem seguido de uma maneira muito próxima a questão das crianças afetadas pela guerra. E agora essa questão da cólera”.

Deslocados do Iraque e da Síria em outubro de 2014 (Foto: UNHCR/D. Nahr)

O surto declarado em setembro já matou dezenas de pessoas. O especialista disse a ONU News, em Nova Iorque, que a situação se espalhou para todas as 14 províncias sírias, levando a uma piora do sistema de saúde e crise de fornecimento de serviços básicos.

Pinheiro disse que o acesso à ajuda humanitária continua inadequado e politizado. Ele defende o foco do mundo nessa realidade como importante, especialmente em relação ao papel dos integrantes da ONU que têm influência na solução para o problema.

“As potências e os Estados-Membros que estão envolvidos no conflito têm uma responsabilidade em termos de ajudar a terrível situação de dezenas de milhões de deslocados internamente que não moram nas suas próprias casas. A ONU tem feito isso, mas é essencial que isso seja feito como apoio dos Estados-Membros. Por que razão não se chega a uma negociação? Porque há cinco exércitos, pode-se dizer, atuando no país. Então, fazer uma negociação com cinco países é extremamente complicado”, disse.

Na Assembleia Geral das Nações Unidas, Paulo Sérgio Pinheiro pediu apoio urgente a famílias em busca de desaparecidos e ressaltou que cresce o impulso de repatriações de refugiados que considera um processo “mais urgente do que nunca”.

“Tudo veio a ser complicado especialmente pelo papel que a Federação Russa deveria ter, por causa do desvio das atenções e dos apoios em relação à Ucrânia. Então, nós acreditamos que isso seja por algum período. Acreditamos que isso seja por um período. Em algum momento essa guerra vai cessar. O nosso esforço é fazer justamente com que o mundo não se esqueça da Síria”, declarou o brasileiro.

A ONU estima que metade da população na Síria dependa de fontes de água inseguras. Estima-se que 14,6 milhões de cidadãos dependem de ajuda para sobreviver.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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