Irã permite acesso a instalações nucleares, mas volta a exigir fim de sanções dos EUA

AIEA será autorizada a trocar câmeras de vigilância, mas imagens registradas só serão entregues mediante a retirada de sanções impostas pelos EUA

O governo do Irã autorizou novamente a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) a acessar as instalações nucleares do país em Karaj, a 40 quilômetros de Teerã, para trocar as câmeras de vigilância danificadas que estão no local. As informações são da agência catari Al Jazeera.

Teerã afirmou que tomou a iniciativa de liberar o acesso da agência a fim de evitar um “mal-entendido”. As câmeras estão instaladas em um setor de manufatura de centrifugas e foram danificadas durante um ataque que o governo atribui a Israel. O acordo para o acesso às instalações foi definido durante visita do chefe da AIEA, Rafael Mariano Grossi.

“O acordo com o Irã para a substituição de câmeras de vigilância nas instalações de Karaj é um desenvolvimento importante para as atividades de verificação e monitoramento da AIEA no Irã. Isso nos permitirá retomar a continuidade necessária do conhecimento nesta instalação”, disse Grossi.

À época do ataque, o Irã afirmou que um drone tentou atacar o prédio como forma de “sabotagem” contra o programa nuclear nacional, o que resultou em um apagão na região. O governo descreveu o apagão como “terrorismo nuclear” e acusou Israel, que não negou ou confirmou as acusações.

Prédio estatal de energia atômica do Irã sofre tentativa de ataque
Cidade de Karaj, Irã, em novembro de 2005 (Foto: Divulgação/Ensie & Matthias)

Acordo nuclear

O aval do Irã, porém, não resolve totalmente a questão. Isso porque uma lei aprovada pelo Parlamento iraniano determina que a AIEA não tenha acesso às gravações das câmeras, que seriam instaladas somente “após análises técnicas de especialistas iranianos”.

De acordo com Teerã, mesmo danificadas as câmeras continuaram gravando, mas as imagens não foram compartilhadas com a agência. Para cedê-las, o governo exige que os Estados Unidos derrubem as sanções impostas ao Irã quando Washington abandonou unilateralmente o acordo nuclear em 2018, durante o governo Trump.

Representantes de potências mundiais que fazem parte do Plano de Ação Abrangente Conjunto (JCPOA, da sigla em inglês), como o acordo nuclear é formalmente conhecido, estão atualmente em Viena em um esforço para reativar o pacto.

Por que isso importa?

O ex-presidente norte-americano Barack Obama foi o responsável pelo histórico acordo de cooperação entre Washington e Teerã, firmado em 2015, para que os iranianos deixassem de investir em armas nucleares. A resolução 2231 da ONU rege o pacto. À época, o então candidato Donald Trump afirmava em campanha que o pacto era “estúpido”. Em 2018, já eleito, ele retirou os EUA do acordo.

Em julho de 2019, o Irã supostamente violou seu limite de estoque de urânio e anunciou sua intenção de continuar enriquecendo urânio, o que representa um risco mais sério de proliferação de armas nucleares. Em junho, recém-eleito, o presidente iraniano Ebrahim Raisi colocou a possibilidade de retomada do acordo em xeque, dizendo que não cederia a pressões e condicionando o pacto às regras impostas por Teerã.

Mais recentemente, sem setembro, Raisi mostrou-se mais flexível quanto à retomada do acordo, mas disse que só o faria mediante à retirada das sanções impostas por Washington, em particular aqueles estabelecidas por Trump. Em discurso à Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o líder iraniano classificou a punição como “crimes contra a humanidade durante a pandemia do coronavírus”.

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