Irã processa jornalistas que revelaram estupro de jovem de 16 anos por policiais

Documento vazado revela que agentes de segurança violentaram, e mataram uma adolescente em meio aos protestos de 2022

O governo do Irã abriu uma ação criminal contra “um número de jornalistas e ativistas” que repercutiram uma reportagem da rede BBC, a qual revelou que agentes das forças de segurança iranianas estupraram e assassinaram a adolescente Nika Shakarami, de 16 anos, em 2022.

O Judiciário iraniano alega que as ações judiciais se baseiam no fato de que os relatos jornalísticos sobre a morte de Nika são “falsos, incorretos e cheios de erros” e “perturbam a segurança psicológica da sociedade.”

Os nomes dos indivíduos processados não foram revelados pelo governo, mas dois profissionais de imprensa iranianos usaram seus perfis na rede social X, antigo Twitter, para dizer que estão entre os alvos das ações judiciais. Um é Mohammad Parsi, a outra é Marzieh Mahmoodi.

Bandeira iraniana sobre o sítio arqueológico (Foto: Adam Jones/Flickr)

Nika desapareceu durante um protesto contra o regime conectado à onda de manifestações iniciada em 2022, e o corpo dela foi encontrado somente nove dias depois. O governo alegava que ela cometeu suicídio, mas um documento oficial vazado, cujo conteúdo foi revelado pela BBC, levanta dúvidas sobre essa versão dos eventos.

Classificado como “altamente confidencial”, o documento registra uma audiência conduzida pela Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), instituição militar oficial da República Islâmica. Ele revela os nomes dos agressores de Nika e dos comandantes que tentaram encobrir os fatos, destacando eventos perturbadores ocorridos dentro de uma van secreta onde as forças de segurança mantiveram a jovem.

Segundo o documento, enquanto estava imobilizada por um dos homens, Nika foi abusada. Apesar de estar algemada, ela retaliou, expressando sua revolta com chutes e palavras ofensivas. Esta reação dela, admitiram os agentes de segurança, os levou a espancar a adolescente com bastões e a aplicar choques elétricos. 

Segundo o ministro do Interior Ahmad Vahidi, no entanto, os relatos da imprensa não condizem com a realidade. “Os inimigos e os seus meios de comunicação recorreram a relatórios falsos e irreais para realizar operações psicológicas”, disse ele.

Embora admita que existem diversos documentos oficiais iranianos falsos em circulação, a BBC afirma que “extensas investigações indicam que os documentos que obtivemos narram os últimos movimentos da adolescente.”

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