Irã usa enforcamento em público para executar outro manifestante condenado à morte

Pelo menos 459 manifestantes foram mortos durante os protestos no país, iniciados em setembro após a morte de Mahsa Amini

Um segundo manifestante foi executado no Irã nesta segunda-feira (12). Majidreza Rahnavard, de 23 anos, foi enforcado em público na cidade de Mashhad, no nordeste do país. Ele foi condenado à morte sob acusação de ter esfaqueado dois membros das forças de segurança durante protestos desencadeados após o incidente que tirou a vida de Mahsa Amini em setembro. As informações são da rede Radio Free Europe.

A Justiça da república islâmica o acusou de “fazer guerra contra Deus”, acusação passível de pena capital. Rahnavard foi preso em 17 de novembro, segundo informou a agência estatal Irna. Em um espaço de 26 dias, ele foi julgado, condenado à morte e executado, tudo sem assistência jurídica. Além de matar os dois membros da milícia Basij, grupo paramilitar voluntário a serviço da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), ele teria ferido outros quatro. 

Os tribunais do Irã têm sido duramente criticados pela comunidade internacional por não permitirem que os acusados escolham seus próprios advogados ou tenham acesso às provas contra eles.

Majidreza Rahnavard havia sido preso no dia 17 de novembro (Foto: Facebook/Reprodução)

A primeira execução de um manifestante ocorreu na última quinta-feira (8), quando o rapper Moshen Shekari foi enforcado após ter o recurso de sua sentença rejeitado pela Suprema Corte do Irã. Ele foi igualmente acusado de “inimizade contra Deus” após supostamente ter ferido um oficial do Basij durante os atos no país.

A execução foi fortemente condenada tanto em território iraniano quanto no exterior, e a Alemanha convocou o embaixador iraniano em resposta. De acordo com relatos da mídia, pelo menos 25 manifestantes estão no corredor da morte e podem ser executados a qualquer momento.

De acordo com agência de notícias ativista HRANA, até 29 de novembro, pelo menos 459 manifestantes foram mortos durante os distúrbios, incluindo 64 menores. Já o número de execuções no Irã ultrapassou 500 neste ano, disse a ONG Direitos Humanos do Irã (IHRNGO), com sede em Oslo.

Por que isso importa?

Os protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

De acordo com a ONG, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal pelo governo. O relatório cita vídeos divulgados na internet que mostram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.

Foram identificadas 47 pessoas que grupos de direitos humanos ou veículos de comunicação informaram ter morrido nos protestos. Entre elas, ao menos nove crianças e seis mulheres, sendo a maioria vítima de disparos de armas de fogo. Entretanto, a própria ONG admite que o número de mortos é provavelmente maior devido à subnotificação.

Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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