Irã anuncia primeira execução de um cidadão condenado por participar de protestos

Mohsen Shekari foi condenado por "inimizade contra Deus", após liderar um bloqueio de rua e supostamente ferir um agente público

O governo do Irã confirmou nesta quinta-feira (8) que realizou a primeira execução de um cidadão condenado por envolvimento nos protestos populares que desde setembro tomaram as ruas do país. As informações são da rede BBC.

Mohsen Shekari foi enforcado após ter sido condenado pelo crime de “inimizade contra Deus”, segundo informou a mídia estatal iraniana. Ele teria liderado um grupo de manifestantes que bloqueou uma estrada de Teerã e feriu um integrante de uma milícia armada ligada ao governo.

Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da ONG Direitos Humanos do Irã (IHRNGO), se manifestou através do Twitter e cobrou uma “forte reação” internacional contra a execução. “Caso contrário, enfrentaremos execuções diárias de manifestantes. Esta execução deve ter consequências práticas rápidas internacionalmente”, disse o ativista.

De acordo com a agência de notícias iraniana Mizan, ligada ao Poder Judiciário, Shekari usou um facão para atacar um membro do Basij, grupo paramilitar voluntário a serviço da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês).

Shekari foi acusado de usar a arma “com a intenção de matar, causar terror e perturbar a ordem e a segurança da sociedade”, sendo assim condenado por “inimizade contra Deus”. Ele apelou da decisão, mas o recurso foi negado no dia 20 de novembro.

No começo desta semana, outras cinco pessoas foram condenadas à morte por supostamente matarem um membro do Basij. Mais 11 pessoas envolvidas na suposta morte do homem, ocorrida no dia 12 de novembro, receberam duras penas de prisão, que chegam a até 25 anos. Entre os condenados à prisão estão três menores de idade.

O Judiciário iraniano anunciou até agora dez sentenças de morte em casos ligados às manifestações. Os crimes atribuídos aos réus são os de “inimizade contra Deus” e “corrupção na Terra”.

Manifestação em Estocolmo, na Suécia, contra a repressão estatal no Irã (Foto: Artin Bakhan/Unsplash)
Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

De acordo com a entidade, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal. O relatório cita vídeos divulgados na internet que mostram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.

Entidades humanitárias alegam que quase 500 pessoas morreram vitimadas pela violenta repressão aos protestos imposta pelas forças de segurança. Entre elas, mais de 50 crianças.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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