Após breve desaceleração, Irã volta a enriquecer urânio de olho em armas nucleares, diz AIEA

País estaria próximo de atingir nível suficiente para ter três bombas de destruição em massa, segundo agência da ONU

O Irã voltou a enriquecer urânio que poderia, futuramente, assegurar ao país a posse de ao menos três armas nucleares. O alerta foi feito na terça-feira (26) pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), segundo informações divulgadas pela agência Reuters.

De acordo com o órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), Teerã há tempos conseguiu atingir o nível de pureza de 60% do urânio, próximo de atingir os 90% necessários para ser usado em armamento nuclear.

Em comunicado, a AIEA afirmou que o Irã “aumentou a sua produção de urânio altamente enriquecido, revertendo uma redução anterior de produção registada em meados de 2023.” No mesmo documento, a agência da ONU estima que a produção é de 9 quilos por mês, sendo necessários cerca de 42 quilos para uma arma nuclear.

Diplomatas com conhecimento do caso afirmam, ainda, que o governo iraniano teria desacelerado temporariamente o enriquecimento de urânio após conversas sigilosas com os EUA. É provável que essas reuniões tenham acertado a libertação de cidadãos norte-americanos que estavam presos no Irã.

Teste nuclear conduzido pelos EUA no Atol Enewetak, 1º de novembro de 1952, a primeira bomba de hidrogênio bem-sucedida do mundo (Foto: Flickr)
Arma nuclear muito próxima

Embora Teerã negue ter planos de construir armas nucleares, o Ocidente vem alertando que tal objetivo está mais próximo. Em março deste ano, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto das forças armadas norte-americana, afirmou que o governo iraniano teria condições de atingir tal meta em “alguns meses” se assim o desejasse.

“O Irã poderia produzir material de fissão para uma arma nuclear em menos de duas semanas e levaria apenas mais alguns meses para produzir uma arma nuclear real”, disse o militar ao Congresso dos EUA, conforme relatou na ocasião o The Wall Street Journal.

Desde 2021 têm se acumulado indícios de que o Irã vem aumentando seu estoque de material atômico. Em dezembro do ano passado, a AIEA disse que o país planejava instalar novas centrífugas em uma usina de enriquecimento de combustível, visando à produção de mais urânio enriquecido a 60%.

Na ocasião, a subsecretária-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para assuntos políticos, Rosemary DiCarlo, estimou que o país tenha agora um estoque total de urânio enriquecido de mais de 18 vezes a quantidade permitida pelo Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), o acordo nuclear assinado em 2015.

Por sua vez, Teerã alega que seu programa nuclear é usado para fins puramente pacíficos. No entanto, é o único país sem armas nucleares que produz urânio altamente enriquecido a 60%.

O acordo nuclear

O ex-presidente norte-americano Barack Obama foi o responsável pelo histórico acordo de cooperação entre Washington e Teerã, firmado em 2015, para que os iranianos deixassem de investir em armas nucleares. A resolução 2231 da ONU rege o JCPOA e garante que a AIEA tenha acesso regular ao programa nuclear iraniano.

À época do acordo, o então candidato Donald Trump afirmava em campanha que o pacto era “estúpido”. Eleito, o republicano cumpriu a promessa de retirar seu país da tratativa, impondo ainda novas sanções ao Irã, que em consequência retomou o investimento em armas nucleares.

Posteriormente, as duas partes começaram a debater a possibilidade de retomar o pacto. Entretanto, a relação se deteriorou novamente quando Teerã removeu de suas instalações nucleares as câmeras de monitoramento instaladas pela AIEA.

Rafael Grossi, chefe da agência, afirmou que a medida deixou o órgão “cego”, carente de informações atualizadas quanto à quantidade de material e ao número de centrífugas de que o pais dispõe.

União Europeia (UE), então, passou a intermediar novas negociações, mas as conversas foram abandonadas em meio aos protestos populares que tomaram as ruas iranianas desde setembro de 2022, após a morte da jovem Mahsa Amini sob custódia da “polícia da moralidade”.

“O JCPOA não está na agenda há meses”, declarou no final de janeiro de 2023 Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

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