Meninas protestam contra fechamento de escolas pelo Taleban no Afeganistão

Retomada das aulas teria ocorrido após acordo entre a administração escolar regional e os pais, sem a autorização do Taleban

Uma nova ordem do Taleban para fechar escolas de ensino médio destinadas a meninas levou dezenas de alunas a protestar na província de Paktia, no Afeganistão, no último sábado (10). As informações são da rede Gandhara.

As meninas decidiram se manifestar porque o funcionamento dos estabelecimentos de ensino foi proibido dias depois de eles terem sido reabertos. Seis escolas na cidade de Gardiz e uma em Samkani haviam voltado a funcionar há duas semanas, mas na sequência foram fechadas de novo.

A retomada das aulas teria sido estabelecida através de um acordo entre a administração escolar regional e os pais das alunas, sem a autorização expressa do Ministério da Educação do Taleban.

Os talibãs, que após a tomada do poder central, em agosto de 2021, prometeram maior abertura e respeito à liberdade de expressão, têm escancarado suas contradições. O Ministério de Assuntos da Mulher do antigo governo foi fechado, o que restringiu expressivamente os direitos das mulheres. A maioria foi proibida de trabalhar e teve vetado o direito à educação.

“Por que vocês brincam com nossos sentimentos e por que nos mandam de volta para nossas casas decepcionadas?”, disse uma menina que se manifestou através das redes sociais e que participou do protesto.

Zabihullah Mujahid, principal porta-voz do governo encabeçado pelo Taleban no Afeganistão, disse que uma investigação foi aberta para apurar quem autorizou a reabertura das escolas.

Meninas do ensino fundamental: Taleban restringe o ensino às afegãs (Foto: Sayed Bidel/Unicef)
Por que isso importa?

A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há também um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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