Ataque de homem-bomba deixa nove soldados paquistaneses mortos

Desde o retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão, o Paquistão registrou um acentuado aumento na atividade extremista, com ataques se intensificando nas áreas fronteiriças

Na quinta-feira (31), no turbulento oeste do Paquistão, no distrito de Bannu, um homem-bomba em uma motocicleta colidiu com um comboio militar e detonou explosivos, resultando em nove soldados mortos e 20 feridos. A informação foi divulgada pelo Exército e autoridades locais, sendo repercutiu a agência  Associated Press.

O incidente é parte de um aumento preocupante na militância na região, atribuído em parte ao retorno dos talibãs ao poder no vizinho Afeganistão há dois anos, o que tem levado a um aumento nos ataques nas áreas fronteiriças. Embora Islamabad culpe os combatentes afegãos pelo aumento recente do terrorismo no Paquistão, Cabul nega.

Apesar de nenhum grupo ter reivindicado imediatamente a responsabilidade pelo ataque, a suspeita recai sobre Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, que aumentou os ataques contra as forças de segurança desde 2022.

Combatentes do Tehreek-e-Taliban em vídeo de abril de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/PatilSushmit)

As autoridades afirmam que os insurgentes encontraram refúgio e estabeleceram presença no Afeganistão após a ascensão talibã ao poder, o que também incentivou as operações da organização extremista mais ativa em território paquistanês.

O primeiro-ministro interino do Paquistão, Anwaar-ul-Haq Kakar, classificou o incidente como “um ato terrorista covarde”. As forças de segurança locais estão realizando patrulhas na área para assegurar a segurança da população civil.

Bannu está situado próximo ao antigo reduto militante do Waziristão do Norte, que já serviu como base para insurgentes até que o exército paquistanês anunciou ter eliminado a presença de militantes locais e estrangeiros na região anos atrás. No entanto, ataques esporádicos continuaram a ocorrer, levantando preocupações de que os TTP possam estar se reagrupando na área.

O grupo Estado Islâmico (EI) também está operando no país e assumiu a autoria de um atentado suicida ocorrido no mês passado. A ofensiva resultou na morte de pelo menos 54 pessoas, incluindo 23 crianças, e ocorreu durante reunião de um partido político.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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