ONU: Agência apoia vítimas de violência de gênero no Afeganistão

Só na província de Herat, no Afeganistão, nove em cada dez mulheres sofrem violência conjugal, alerta Unfpa

Este conteúdo foi publicado originalmente no portal ONUNews, da Organização das Nações Unidas

Na província de Herat, no Afeganistão, Sahar*, de 22 anos, foi espancada pelo marido por se recusar a fazer um teste de virgindade. A jovem acabou no Centro de Proteção à Família, no hospital regional, com ferimentos graves. 

Este local, e outros espalhados pelo Afeganistão, recebem o apoio do Unfpa (Fundo das Nações Unidas para a População) para prestar serviços de saúde, psicossociais e jurídicos para sobreviventes de violência de gênero. Conforme a chefe do centro, Freshta Fahim, tal violência é um crime e uma violação dos direitos humanos.

Sahar recebeu serviços de saúde e aconselhamento para se recuperar física e emocionalmente da experiência. O centro também a ajudou a obter apoio jurídico da Direção Provincial dos Assuntos da Mulher. “O centro de proteção à família era o único lugar que poderia dar apoio à sua filha”, disse o pai da jovem.

ONU: Agência apoia vítimas de violência de gênero no Afeganistão
Meninas têm aula no ensino fundamental em escola improvisada na província de Nangarhar, Afeganistão, em abril de 2019 (Foto: Unicef/Marko Kokic)

Desde 2014, o centro tem trabalhado sem parar para fornecer apoio ao maior número possível de sobreviventes. No primeiro trimestre de 2021, conseguiu atender 254 sobreviventes com serviços psicossociais, de saúde e de referência.  

O Unfpa conta que esta é apenas uma fração dos necessitados. Aproximadamente nove em cada 10 mulheres em Herat sofreram violência conjugal, de acordo com uma pesquisa de 2015. Segundo o governador da província, Wahid Qatali, “a maioria dessa porcentagem está sofrendo violência física”, como a jovem Sahar. 

Virgindade 

Sahar se casou com Abdul, de 28 anos, por decisão dos pais, como é típico em grande parte do país. Nos meses seguintes, ela mostrou sinais crescentes de depressão, bem como hematomas por todo o corpo. Eventualmente, seus pais descobriram que estava sendo agredida todos os dias. 

Quando o pai ligou para Abdul, ele disse que o estava fazendo era porque Sahar “não era virgem.” Segundo o Unfpa, a virgindade é altamente valorizada no Afeganistão e em todo o mundo, especialmente para mulheres e meninas.

Quando uma mulher é acusada de perdê-la antes do casamento, as consequências costumam ser terríveis. Ela pode até ser assassinada no chamado “crime de honra”. A agência da ONU afirma que a virgindade é uma ideia social e cultural, não médica, e não existe uma forma médica de determinar se uma pessoa nunca teve relações sexuais antes. 

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Mulheres usam burcas em Kunduz, Afeganistão, em julho de 2006 (Foto: Divulgação/J McDowell)

No entanto, muitas pessoas continuam a acreditar que a virgindade pode ser “provada” por um “exame invasivo e muitas vezes doloroso sem legitimidade científica”. Desde a noite de núpcias, Abdul exigia que Sahar fizesse um teste de virgindade. Quando ela se recusou, ele ameaçou matá-la. 

Os pais de Sahar apoiaram sua decisão. Mesmo que os resultados do teste fossem favoráveis​, o fato de ela ter feito o exame teria causado danos à reputação da comunidade. Recordista em violência de gênero, o Afeganistão só permite o teste quando uma mulher concorda com o procedimento, embora a aplicação dessa regra seja um desafio. 

Uma especialista em gênero do Unfpa, Noor Hamid, disse que há um movimento nacional para que o governo do Afeganistão proíba o teste de virgindade em sua totalidade. Segundo ele, todos os exames e testes ginecológicos devem ter valor médico e ser realizados apenas no interesse da paciente.

*Nomes foram alterados para proteger a identidade da vítima. 

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