A Rússia intensificou o apoio ao programa nuclear do Irã enquanto países europeus reforçam sanções contra a República Islâmica. O encontro entre delegações russas e iranianas em Teerã nesta quarta-feira (8) marcou um novo passo na cooperação nuclear entre as nações, com foco em pequenos reatores modulares e expansão da usina de Bushehr. As informações são da Al-Monitor.
O vice-presidente executivo da estatal russa Rosatom, Nikolay Spassky, reuniu-se com o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), Mohammad Eslami, para discutir projetos de usinas nucleares de 1.250 megawatts (MW). Segundo a agência de notícias Tass, está prevista uma visita futura do CEO da Rosatom, Alexey Likhachev, a Teerã, para acompanhar o progresso das novas unidades de energia nuclear iraniana.

As autoridades também abordaram a construção de pequenos reatores modulares (SMRs) e da futura usina Iran Hormoz, localizada na província de Hormozgan, no sul do país. Esses reatores têm capacidade de até 300 MW por unidade, cerca de um terço da potência dos modelos convencionais, e representam uma aposta estratégica para ampliar a matriz energética do Irã.
Em setembro, Likhachev e Eslami assinaram um acordo de cooperação nuclear para a construção de pequenas usinas nucleares no país. O plano prevê oito novas usinas para abastecer Teerã e alcançar 20 gigawatts de energia até 2040, segundo o governo iraniano.
O acordo foi firmado durante a Semana Atômica Mundial, em Moscou, evento que reuniu autoridades e empresas do setor de energia nuclear. Em agosto, Likhachev declarou que a Rosatom busca ampliar a cooperação nuclear com o Irã por meio de projetos de menor escala e tecnologia avançada.
No mesmo mês, Irã e Rússia assinaram um contrato de US$ 25 bilhões para a construção de quatro usinas nucleares, incluindo a Iran Hormoz, que deve gerar 5.000 MW de energia. A Atomstroyexport, subsidiária da Rosatom, já havia colaborado na construção do reator de Bushehr, consolidando os laços entre Moscou e Teerã no setor nuclear.
A expansão dessa parceria ocorre após o Reino Unido, França e Alemanha (E3) reativarem sanções contra o Irã em agosto, dentro do marco do Acordo Nuclear de 2015. O pacto, do qual Rússia e E3 ainda são signatários, permite o restabelecimento de sanções caso o Irã descumpra seus termos. As restrições da ONU (Organização das Nações Unidas), que incluem congelamento de ativos e embargo de armas, voltaram a valer no fim de setembro.
Desde a retirada dos Estados Unidos do acordo em 2018, o Irã aumentou os níveis de enriquecimento de urânio, atingindo cerca de 60% em junho, após ataques israelenses e americanos contra suas instalações, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O limite do acordo é de 3,67%, enquanto o nível para uso militar é de 90%.
Apesar de deter a segunda maior reserva de gás natural do mundo, o Irã enfrenta problemas energéticos agravados por sanções, má gestão e subsídios internos. O país viveu uma crise energética no último verão, com apagões e escassez de água. Dados da AIEA mostram que, em 2023, a energia nuclear no Irã representava apenas 0,5% da matriz energética, contra 71,5% do gás e 26,5% do petróleo.
O governo iraniano afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos e busca apenas reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Já a Rússia segue expandindo sua atuação na região, com projetos como o reator de Dabaa, no Egito, iniciado em 2024.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, negou nesta quarta-feira qualquer contato com o enviado do governo Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, após reportagens sugerirem possíveis negociações para retomar o diálogo nuclear. Segundo Araghchi, não há conversas oficiais em andamento.
Os Estados Unidos e o Irã haviam iniciado um novo ciclo de negociações em abril, mas as conversas foram suspensas em junho, após bombardeios americanos a instalações iranianas. Durante a Cúpula da Concórdia, em Nova York, Witkoff afirmou que “os EUA e o Irã estão conversando”.