Em meio a ataques, EUA voltam a designar os Houthis como uma organização terrorista

Ordem passará a valer em 30 dias, dando tempo a Washington para providenciar ajuda humanitária à população do Iêmen

O governo norte-americano anunciou na quarta-feira (17), através do Departamento de Estado, que voltará a inserir os Houthis, do Iêmen, em sua lista de organizações terroristas designadas. A medida foi tomada porque os rebeldes não acataram as solicitações de cessar-fogo no Mar Vermelho, onde têm usado mísseis e drones para atacar navios comerciais.

O grupo rebelde, que conta com apoio do governo do Irã, ataca as embarcações sob o argumento de que servem a Israel. Trata-se de uma resposta direta à operação militar do Estado judeu na Faixa de Gaza, que por sua vez é uma reação ao ataque do Hamas em território israelense ocorrido em 7 de outubro.

Atualmente, porém, as ações dos Houthis são cada vez mais aleatórias, atingindo inclusive navios sem relação direta com Israel. Mesmo embarcações com bandeiras de países que não apoiam a luta contra o Hamas estão sob ameaça.

O presidente dos EUA Joe Biden: Houthis na lista de grupos terroristas (Foto: Creative Commons)

“Estes ataques contra o transporte marítimo internacional colocaram os marinheiros em perigo, perturbaram o livre fluxo do comércio e interferiram nos direitos e liberdades de navegação”, disse o órgão diplomático dos EUA em comunicado.

O texto afirma ainda que a designação tem a intenção de responsabilizar os rebeldes por suas “atividades terroristas”, mas promete reavaliar a situação caso os Houthis concordem em suspender os ataques.

Paralelamente, as Forças Armadas norte-americanas conduzem ações militares contra o grupo, inclusive com ataques no território iemenita. Para isso foi lançada a Operação Guardião da Prosperidade, uma coalizão que tem entre seus membros seis países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Canadá, Dinamarca, França, Grécia, Holanda e Noruega.

Na quinta-feira passada (11), a coalizão lançou sua primeira ofensiva no Iêmen, um bombardeio lançado por Reino Unido e EUA. Os insurgentes definiram a ação como “bárbara” e prometeram continuar atacando embarcações que passarem pelo Mar Vermelho.

Empecilho humanitário

Os Houthis foram listados como terroristas pela primeira vez no final da gestão do presidente Donald Trump. Porém, o sucessor dele, Joe Biden, derrubou a decisão quando assumiu o poder, sob o argumento de que ela comprometia a ajuda humanitária à população do Iêmen, país que vive uma guerra civil da qual o grupo rebelde é parte.

Agora, mais uma vez, Washington diz que leva a questão humanitária em consideração e que vai adotar “medidas significativas para mitigar quaisquer impactos adversos que esta designação possa ter sobre o povo do Iêmen.”

Daí a decisão de implantar efetivamente a medida somente após um prazo de 30 dias. Até lá, o governo dos EUA diz que “realizará uma divulgação robusta às partes interessadas, prestadores de ajuda e parceiros que são cruciais para facilitar a assistência humanitária e a importação comercial de produtos essenciais no Iêmen.”

Paralelamente, serão concedidas licenças extraordinárias para transações relacionadas ao “fornecimento de alimentos, medicamentos e combustível, bem como remessas pessoais, telecomunicações e correio, e operações portuárias e aeroportuárias das quais o povo iemenita depende.”

O objetivo da designação é bloquear o acesso dos Houthis ao sistema financeiro dos EUA, abrindo caminho para sanções adicionais e para a aplicação, contra a organização, da legislação antiterrorismo norte-americana.

Por que isso importa?

Os Houthis, formalmente conhecidos como “Ansar Allah” (expressão em árabe que pode ser traduzida como “Apoiadores de Deus”), se consideram parte do “Eixo da Resistência”, opondo-se a Israel, aos EUA e ao Ocidente.

A atuação do grupo está inserida nos conflitos armados do Iêmen, envolvendo confrontos tanto com o governo central quanto com outros grupos rebeldes. Uma das principais fontes de tensão é a percebida marginalização dos insurgentes no cenário político e econômico do país.

Em 2014, os Houthis capturaram a capital iemenita, Sanaa, o que desencadeou um conflito mais amplo, resultando na intervenção militar de países vizinhos. Além da tensão local, os Houthis frequentemente são associados ao Irã, levantando preocupações sobre uma possível influência iraniana na região.

Tags: