Rússia pagou ao Taleban por soldados ocidentais mortos no Afeganistão

Investigação detalha esquema de recompensas de até US$ 200 mil pagas pela inteligência russa entre os anos de 2016 e 2019

Uma investigação conduzida pelo portal The Insider, em colaboração com a revista Der Spiegel, revelou novos detalhes sobre um suposto esquema de cooperação entre a o serviço de inteligência militar da Rússia, o GRU e o Taleban. O esquema envolvia o pagamento de recompensas por ataques contra soldados da coalizão ocidental no Afeganistão.

Entre 2016 e 2019, combatentes vinculados ao Taleban teriam recebido cerca de US$ 200 mil por cada soldado das forças ocidentais morto, segundo relatos de ex-funcionários da Diretoria Nacional de Segurança (NDS) do Afeganistão. No total, o GRU teria desembolsado pelo menos US$ 30 milhões, com parte significativa desse montante destinada a outros grupos insurgentes.

Soldados dos EUA no Afeganistão, em junho de 2007 (Foto: U.S. Army/Marcus J. Quarterman)

A descoberta do esquema ocorreu em 2019, durante interrogatórios de combatentes do Taleban detidos pela NDS. De acordo com a investigação, os pagamentos eram organizados por Rahmatullah Azizi, um ex-contrabandista que oficialmente operava no comércio de pedras preciosas. Azizi teria sido recrutado pelo GRU em 2015 e fugido para Moscou antes da exposição do caso.

Azizi utilizava documentos ligados a operações da Unidade 29155, conhecida por sua atuação clandestina, incluindo assassinatos e outras ações encobertas. A investigação aponta que ele vivia em Moscou sob identidade falsa e era proprietário da ARIGS Ltda., uma empresa de comércio de diamantes que funcionava próxima à sede da GRU.

Outro nome citado é Par Han Gul Zafar, também recrutado pela Unidade 29155. Ele teria gerenciado um grupo de afegãos que atuava como mensageiros entre a Rússia, o Afeganistão e países vizinhos. Alguns desses mensageiros chegaram a pedir asilo na Alemanha, embora os pedidos tenham sido negados.

A investigação ainda relaciona altos oficiais do GRU ao esquema, incluindo o tenente-general Ivan Kasianenko, identificado como chefe do programa, que teria frequentado regularmente Cabul entre 2014 e 2020. Outros nomes citados são o coronel Alexey Arkhipov, apontado como principal contato com o Taleban, e Artem Rubtsov, envolvido no treinamento em gemologia para mascarar suas operações.Apesar das descobertas, o trabalho da NDS foi dificultado por interferências de autoridades afegãs e pela ausência de um reconhecimento público do esquema por parte do governo dos EUA. Isso, segundo um ex-oficial da NDS, impediu a alocação de mais recursos para investigar o caso.

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