Sob fogo pesado e em meio a crise interna, regime do Irã começa a ruir, afirma The Economist

Revista britânica aponta sinais de colapso com assassinato de generais, infiltração no alto escalão e perda de apoio popular

A escalada militar entre Israel e Irã já provocou uma ruptura profunda na estrutura de poder iraniana, segundo análise publicada pela revista The Economist. Com o assassinato de generais, vazamentos internos, repressão mal-sucedida e um povo que comemora a morte de seus comandantes com emojis de churrasco, o regime dos aiatolás estaria vivendo seu momento mais frágil desde a Revolução Islâmica de 1979.

Israel declarou ter conquistado “supremacia aérea total sobre Teerã”, e seus ataques aéreos — realizados sem alertas prévios à população iraniana — expuseram o despreparo e a vulnerabilidade das defesas do país. Um dos alvos mais simbólicos foi Amir Ali Hajizadeh, chefe da força aérea da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), morto em 13 de junho. Nas redes sociais, jovens celebraram o ataque, lembrando que ele jamais pediu desculpas por ter derrubado um avião comercial cheio de estudantes em 2020.

A análise da Economist ressalta que a ofensiva israelense agravou o distanciamento entre o regime iraniano e a população. Em bairros de Teerã, alguns moradores chegaram a exibir bandeiras de Israel e distribuíram bolos para celebrar a morte de generais da Guarda Revolucionária. Outros evitam qualquer gesto público, mas compartilham discretamente mapas com rotas de evacuação diante da possibilidade de novos bombardeios.

Israel e Irã: países em guerra (Foto: imagem gerada por IA)

Parte da população iraniana reagiu com ironia à morte de generais da Guarda Revolucionária, acusados de comandar a repressão que matou cerca de 500 manifestantes em 2022. Jovens chegaram a chamar os militares mortos de “inimigos do povo” nas redes sociais. Mas, diante da escalada militar e da possibilidade de um conflito prolongado, vozes mais cautelosas também se manifestam. “O Irã não deve sacrificar sua independência por ódio à República Islâmica”, afirmou Ali Afshari, ex-líder estudantil que já participou de protestos contra o regime.

Israel tem apostado no desgaste interno do regime para fomentar uma reação popular. A operação batizada de “Leão em Ascensão” recupera o leão imperial da antiga bandeira do Irã e tem como objetivo, segundo o premiê israelense benjamin Netanyahu, provocar uma reconexão dos iranianos com uma identidade anterior à Revolução Islâmica. “Chegou a hora de o povo iraniano se unir em torno da sua bandeira”, declarou o líder judeu, em mensagem transmitida por um canal de satélite com sede em Londres.

Segundo a revista, o governo iraniano tem respondido à crise com uma estratégia de endurecimento. O regime bloqueou redes sociais em todo o país, passou a racionar combustível e retomou a retórica de confronto. Em discurso no dia 13 de junho, o líder supremo Ali Khamenei chamou Israel de “identidade sionista maligna, desprezível e terrorista” e prometeu retaliação: “Não mostraremos misericórdia”.

O cenário interno, porém, segue instável. A sucessão de Khamenei permanece indefinida e expõe divisões entre facções rivais — clérigos, reformistas e militares. A possível escolha de seu filho, Mojtaba, como herdeiro intensifica disputas internas e levanta temores de um futuro ainda mais autoritário. Para a revista, a combinação entre pressão externa, colapso de legitimidade e fragmentação no poder pode empurrar o Irã para um novo ciclo de repressão, instabilidade e, no limite, conflito civil.

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