Taleban diz ter matado oito insurgentes em operação contra o EI-K no Afeganistão

Esconderijos do grupo extremista foram atacados em uma ação repressiva realizada após os recentes atentados ocorridos em Cabul

O Taleban anunciou nesta quinta-feira (5) o sucesso de uma operação de contraterrorismo contra o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), grupo extremista que tem realizado seguidos ataques contra civis e agentes estatais no Afeganistão. As informações são da agência Associated Press (AP).

Zabihullah Mujahid, porta-voz do governo talibã, afirmou que as forças de segurança atacaram esconderijos do EI-K em Cabul e na província ocidental de Nimroz. Oito extremistas teriam sido mortos, com mais nove deles detidos, sendo sete na capital afegã.

“Esses membros tiveram um papel importante no ataque ao hotel chinês e abriram caminho para membros estrangeiros do EI chegarem ao Afeganistão”, disse Mujahid no Twitter. “Armas, granadas de mão, minas, coletes explosivos e explosivos foram encontrados, sete membros do EI foram capturados com vida e vários suspeitos foram detidos para interrogatório”.

Uma das ações recentes do EI-K, no dia 12 de dezembro de 2022, à qual Mujahid se referiu, teve como alvo o Longan Hotel, em Cabul, local bastante frequentado por cidadãos chineses. À época, o governo da China chegou a emitir um comunicado a seus cidadãos para que deixassem o Afeganistão “o mais rápido possível” devido à insegurança.

Não houve vítimas civis na ação, apenas dois hóspedes feridos quando tentavam fugir por uma janela. Três extremistas foram mortos pelas forças de segurança. Beijing classificou o ataque como “profundamente chocante” e instou o Taleban a adotar “medidas firmes e resolutas para garantir a segurança dos cidadãos, instituições e projetos chineses no Afeganistão”.

Já em 2023, no primeiro dia do ano, o EI-K reivindicou a autoria de um ataque a bomba contra um posto de checagem de segurança perto do aeroporto militar de Cabul. Abdul Nafi Takor, ministro do Interior do Taleban, falou apenas em “muitos” mortos, sem informar um número preciso de vítimas.

Através do aplicativo de mensagens Telegram, o grupo radical disse que 20 pessoas morreram e 30 ficaram feridas. O Taleban desmente esses números.

Homem-bomba do EI-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)
Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro de 2021, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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