Taleban enfrenta pressão interna por educação feminina no Afeganistão

Deputado do Ministério das Relações Exteriores desafia liderança e pede fim das proibições contra mulheres e meninas

Sher Abbas Stanikzai, vice-ministro político das Relações Exteriores do Afeganistão, criticou publicamente as restrições impostas pelo Taleban à educação feminina no país. Em um discurso na província de Khost, no último sábado (18), ele declarou que não há justificativa para negar às mulheres e meninas o acesso à educação. As informações são da agência Associated Press (AP).

A fala, registrada em vídeo e compartilhada em sua conta oficial na plataforma X, destaca: “Estamos cometendo uma injustiça contra 20 milhões de pessoas de uma população de 40 milhões, privando-as de todos os seus direitos. Isso não está na lei islâmica, mas é uma escolha pessoal ou de nossa natureza.”

Desde que assumiu o poder em 2021, o Taleban proibiu a educação feminina acima do sexto ano. Em setembro passado, surgiram relatos de que as autoridades também haviam interrompido cursos de formação médica para mulheres, medida ainda não confirmada oficialmente. Isso agrava a crise, considerando que, segundo a lei afegã, apenas mulheres podem atender pacientes femininas.

Stanikzai, que liderou as negociações que resultaram na retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão, já havia defendido anteriormente o direito das mulheres à educação, mas esta é a primeira vez que ele direciona um apelo direto ao líder supremo do Taleban, Hibatullah Akhundzada, para reverter a política vigente.

Afegãs estudam em centro de aprendizado na província de Maidan Warda (Foto: Azizullah Karimi/Unicef)

O posicionamento do vice-ministro gerou repercussão internacional. Ibraheem Bahiss, analista do programa do Sul da Ásia do Crisis Group, observou que, embora Stanikzai tenha reiterado a importância da educação feminina em declarações passadas, “esta última parece ir além, ao questionar a legitimidade da abordagem atual e exigir mudanças políticas”.

No cenário internacional, líderes muçulmanos e organizações têm pressionado o Taleban. Em Islamabad, a ativista Malala Yousafzai, laureada com o Prêmio Nobel da Paz, instou os líderes islâmicos a desafiar as proibições impostas pelo grupo. Segundo ela, a educação feminina é um direito fundamental que deve ser garantido a todas as mulheres.

A recusa do Taleban em permitir a educação e o trabalho de mulheres contribui para o isolamento político do Afeganistão. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que o reconhecimento do governo é inviável enquanto essas restrições persistirem.

Nenhum país, até o momento, reconheceu formalmente o Taleban como governo legítimo, embora nações como Rússia e Índia tenham intensificado seus contatos com a liderança afegã.

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