EUA estendem pacto de segurança com a Geórgia em meio a tensões com a Rússia

Visita do chefe do Pentágono soa como resposta ao assédio russo na região, com ameaça de invasão e risco de anexação de territórios

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, desembarcou na Geórgia nesta terça-feira (19) para alinhar questões de segurança e assinar a renovação de um programa de treinamento militar. A visitação ocorre em meio a um cenário turbulento de ameaça de invasão russa ao país vizinho. As informações são do jornal The Washington Post.

A visita do chefe do Pentágono é o primeiro compromisso de uma agenda de três encontros previstos nos países do Mar Negro, antecedendo a reunião desta semana com os ministros da Defesa dos países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na sua sede em Bruxelas, a primeira desde o início da pandemia de Covid-19.

Austin definiu suas visitas estratégicas a Geórgia, Ucrânia e Romênia como um esforço para “reassegurar e reconhecer” o trabalho das nações em prol das missões da Otan, particularmente pelo que foi feito em duas décadas no Afeganistão – embora Geórgia e Ucrânia não sejam membros da Aliança Atlântica, ambas participaram da missão no Oriente Médio. A viagem também se desenha como uma reação ao assédio da Rússia na região, pauta que deve ser abordada na cúpula na Bélgica.

Lloyd Austin visita aliados e manifesta apoio dos EUA à integridade territorial (Foto: U.S. Secretary of Defense/Flickr)

“Os Estados Unidos condenam a atual ocupação da Geórgia pela Rússia e suas tentativas de expandir a influência na região do Mar Negro por meio de coerção militar e atividades malignas”, declarou Austin na segunda-feira (18), antes de se encontrar com o primeiro-ministro georgiano Irakli Garibashvili, a quem o secretário de Defesa quer dar mostras de que os EUA estão fechados com Tbilisi. “Esta é uma região importante, e a sua segurança e estabilidade são cruciais para concretizar plenamente a visão que partilhamos de uma Europa inteira, livre e em paz”.

A invasão da Abecásia e da Ossétia do Sul, que vive na esfera de influência pós-soviética, ocasionou o ponto mais baixo das relações entre Moscou e Tbilisi desde o fim da União Soviética, em 1991. A Abecásia demanda independência e é apoiada pelos russos, enquanto a Ossétia do Sul pleiteia união com a porção norte do território, há 30 anos parte da Federação Russa.

Fortalecimento da defesa

O acordo assinado na segunda-feira é chamado de “Iniciativa de Aprimoramento de Defesa e Dissuasão da Geórgia”, que tem base em um programa de treinamento iniciado em 2018. A iniciativa tem o objetivo de melhorar as instituições de defesa territorial da Geórgia e “promover a interoperabilidade com a Otan”, disse Austin.

A parceria solidifica as forças georgianas contra o que as autoridades chamam de “ameaça híbrida da Rússia”. Neste momento, os Estados Unidos não devem contribuir significativamente com mais pessoal ou armas para apoiar o esforço. A estimativa é que o programa se estenda por seis anos. 

Relações estremecidas

A relação entre Otan e Rússia vem deteriorando há tempos, desde a anexação da península da Crimeia por Moscou em 2014. Há também um desalinhamento sobre questões como o desenvolvimento de mísseis nucleares russos e intrusões aéreas no espaço aéreo da aliança, fatores contribuíram para limitar as conversas oficiais nos últimos anos.

Nesta segunda-feira, a Rússia, através do seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, anunciou a suspensão da sua missão diplomática na Otan, informou a rede BBC. Paralelo a isso, os funcionários do escritório da Aliança em Moscou perderão o credenciamento em novembro. A situação é consequência da expulsão de oito membros da equipe russa pelo bloco, sob a acusação de espionagem

Por que isso importa?

A Rússia possui há duas décadas uma missão de observação na Otan, como parte de um acordo entre o Kremlin e a aliança a fim de promover a cooperação em áreas de segurança. O país, porém, não é membro do bloco liderado pelos EUA e que reúne outros 29 países, sendo 28 europeus e o Canadá.

Punições impostas pela Otan aos russos não são novidade. Em 2018, após o episódio do envenenamento do ex-agente duplo russo Sergei Skripal na cidade inglesa de Salisbury, a Otan retirou o acordo para a nomeação de sete funcionários russos para a missão diplomática do país na aliança, além de negar os pedidos de credenciamento pendentes para três outros.

Sede da Otan, em Bruxelas (Foto: Otan/Flickr)

Agora, as expulsões dos oito diplomatas russos ocorrem sob a acusação de eles serem “oficiais de inteligência russos não declarados”. Ou seja, espiões. Também foram reduzidos pela metade os cargos da Rússia na aliança, de 20 para dez.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que as expulsões não estão ligadas a um evento em particular, mas afirmou que as atividades dos oito indivíduos não estavam de acordo com as suas credenciais.

Para o Kremlin, a decisão da Otan mina completamente as esperanças de que as relações pudessem ser normalizadas. Em coletiva, o porta-voz do governo, Dmitry Peskov, disse a repórteres que o diálogo não será retomado. “Na verdade, essas perspectivas estão quase completamente prejudicadas”, lamentou.

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