Irã precisaria de apenas ‘alguns meses’ para construir arma nuclear, diz general

Militar dos EUA reforça alerta feito por seu governo anteriormente, mas apresenta prazo inferior ao das projeções prévias

O Irã teria condições de produzir uma arma nuclear em “alguns meses” se assim o desejasse. O alerta foi feito pelo general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto das forças armadas norte-americanas, de acordo com o The Wall Street Journal.

“O Irã poderia produzir material de fissão para uma arma nuclear em menos de duas semanas e levaria apenas mais alguns meses para produzir uma arma nuclear real”, disse o militar ao Congresso dos EUA na quinta-feira (23).

Alerta semelhante foi feito no mês passado pelo subsecretário de Defesa Colin Kahl, segundo quem Teerã precisaria de “cerca de 12 dias” para produzir combustível suficiente para uma arma nuclear, conforme relatou a rede Voice fo America (VOA). Porém, Milley citou um prazo consideravelmente mais curto para a construção da bomba.

Em janeiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) já havia alertado que o governo iraniano tem atualmente material suficiente para construir “várias armas nucleares”. E que, embora o país ainda não tenha construído sua bomba atômica, teria condições de fazê-lo se assim pretendesse.

O general Mike Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA (Foto: Flickr)

Junto do alerta, Milley afirmou ao Congresso que as forças armadas norte-americanas trabalham para impedir que Teerã atinja o objetivo. “Nós, militares dos Estados Unidos, desenvolvemos várias opções para nossa liderança nacional considerar, se ou quando o Irã decidir desenvolver uma arma nuclear real”, declarou.

Desde 2021 têm se acumulado indícios de que o Irã vem aumentando seu estoque de material atômico. Em dezembro do ano passado, a AIEA disse que o país planejava instalar novas centrífugas em uma usina de enriquecimento de combustível, visando à produção de mais urânio enriquecido a 60%.

Na ocasião, a subsecretária-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para assuntos políticos, Rosemary DiCarlo, estimou que o país tenha agora um estoque total de urânio enriquecido de mais de 18 vezes a quantidade permitida pelo Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), o acordo nuclear assinado em 2015.

Por sua vez, Teerã alega que seu programa nuclear é usado para fins puramente pacíficos. No entanto, é o único país sem armas nucleares que produz urânio altamente enriquecido a 60%. O urânio para armas é aquele com pureza de 90%.

O acordo nuclear

O ex-presidente norte-americano Barack Obama foi o responsável pelo histórico acordo de cooperação entre Washington e Teerã, firmado em 2015, para que os iranianos deixassem de investir em armas nucleares. A resolução 2231 da ONU rege o JCPOA e garante que a AIEA tenha acesso regular ao programa nuclear iraniano.

À época do acordo, o então candidato Donald Trump afirmava em campanha que o pacto era “estúpido”. Eleito, o republicano cumpriu a promessa de retirar seu país da tratativa, impondo ainda novas sanções ao Irã, que em consequência retomou o investimento em armas nucleares.

Posteriormente, as duas partes começaram a debater a possibilidade de retomar o pacto. Entretanto, a relação se deteriorou novamente quando Teerã removeu de suas instalações nucleares as câmeras de monitoramento instaladas pela AIEA.

Rafael Grossi, chefe da agência, afirmou que a medida deixou o órgão “cego”, carente de informações atualizadas quanto à quantidade de material e ao número de centrífugas de que o pais dispõe.

União Europeia (UE), então, passou a intermediar novas negociações, mas as conversas foram abandonadas em meio aos protestos populares que tomaram as ruas iranianas desde setembro de 2022, após a morte da jovem Mahsa Amini sob custódia da “polícia da moralidade”.

“O JCPOA não está na agenda há meses”, declarou no final de janeiro de 2023 Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

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