Em meio à ameaça crescente de invasão, em um tabuleiro montado com mais de 100 mil soldados russos concentrados na fronteira e prontos para o primeiro movimento, o embaixador da Ucrânia no Reino Unido, Vadym Prystaiko, disse que esse tipo de assédio dos vizinhos não é algo novo e que seu país irá resistir até o fim, caso o ataque aconteça. As informações são da agência estatal ucraniana Ukrinform.
Prystaiko declarou em entrevista à rede de TV europeia Sky News que a ameaça militar de Moscou não chega a ser algo novo para os ucranianos, fazendo menção ao episódio da anexação da região da Crimeia em 2014. O governo russo também apoia os separatistas que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril do mesmo ano.
“Não pensamos apenas que ele [Putin] iria invadir a Ucrânia. Poucas pessoas lembram que, aliás, ele já está lá. Ele está na Ucrânia há quase oito anos. Então, não há grandes novidades para nós”, disse o embaixador.
Prystaiko citou ainda a imprevisibilidade das ações do Kremlin. Para ele, não está claro se a Rússia tem em mente uma invasão em grande escala ou se o plano é uma pequena incursão para “irritar” a Ucrânia e o mundo, numa mera demonstração de força.
“Lutaremos até a morte”, garantiu o embaixador ao ser questionado sobre qual seria a reação dos ucranianos no caso de uma guerra.
O embaixador também mencionou a Alemanha ao dizer que, caso o país não forneça armas defensivas à Ucrânia, poderá usar de outros mecanismos para ajudar Kiev, entre ele a proibição do gasoduto Nord Stream 2, considerando que os russos já foram acusados pelos próprios ucranianos de usarem o gás natural como uma arma geopolítica.

“Isso é o que pedimos a eles tantas vezes, para banirem o Nord Stream 2. Nossos gasodutos permitem fornecer tanto gás quanto eles quiserem na Europa e ainda mais. Portanto, não há necessidade específica [para o Nord Stream 2]”, contextualizou Prystaiko.
Além da fala do embaixador, diplomatas britânicos já haviam dito no sábado (22) que, na hipótese de uma incursão bem sucedida, o presidente russo Vladimir Putin já teria elaborado um plano para destituir o atual governo ucraniano e colocar no seu lugar uma liderança pró-Rússia. O preferido do Kremlin para o governo na ex-república soviética seria um ex-membro do Parlamento ucraniano chamado Yevgeniy Murayev.
Por que isso importa?
A Rússia apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass.
O conflito fez aumentar a tensão entre os dois países, que já era alta desde a anexação da Crimeia pela Rússia. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão russa à Ucrânia que tende a aumentar em 2022.
Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.
A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus.
Um conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.