Na hipótese de uma incursão bem sucedida aos vizinho, o presidente russo Vladimir Putin já teria elaborado um plano para destituir o atual governo da Ucrânia e colocar no seu lugar uma liderança pró-Rússia, disseram diplomatas do Reino Unido no sábado (22). As informações são do jornal The New York Times.
O plano teria sido elaborado em um trabalho conjunto entre autoridades de inteligência russas, apoiadas por ex-funcionários ucranianos que fugiram para Moscou, afirma a inteligência britânica.
“As informações iluminam a extensão da atividade russa projetada para subverter a Ucrânia e é uma visão do pensamento do Kremlin”, observou em comunicado a secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss.
A Rússia tem atualmente mais de 100 mil soldados concentrados na fronteira com os vizinhos. De acordo com os EUA, essas tropas podem iniciar o ataque a qualquer momento. “A Rússia deve diminuir a escalada, encerrar suas campanhas de agressão e desinformação e seguir o caminho da diplomacia”, acrescentou Truss.
As acusações dos britânicos não detalham como Moscou estabeleceria um novo regime em Kiev, tampouco se tais planos dependem de uma invasão do exército russo. Sob anonimato, autoridades britânicas a par da situação disseram que a intenção é impedir que esses planos sejam executados e avisar Putin de que a trama havia sido exposta.
O nome escolhido pelos russos para o governo pró-Kremlin na ex-república soviética seria um ex-membro do Parlamento ucraniano chamado Yevgeniy Murayev. Anteriormente integrante do Partido das Regiões, apoiado pela Rússia, Murayev atualmente é chefe de um partido político chamado Nashi, parte de uma constelação de partidos da oposição que se opõem às siglas pró-ocidentais da Ucrânia. Em setembro de 2021, uma enorme faixa com sua fotografia foi colocada em frente ao prédio da Federação dos Sindicatos na Praça da Independência de Kiev, com o slogan “Esta é a nossa terra”.
Washington corrobora com as informações divulgadas pela inteligência britânica. Dentro da “Five Eyes” (cinco olhos, em tradução literal), aliança de inteligência que reúne os países anglófonos Austrália, Canadá, EUA, Nova Zelândia e Reino Unido, os britânicos exercem o papel primário de interceptar as comunicações russas, tendo desempenhado, por exemplo, um papel importante em expor a interferência russa nas eleições norte-americanas de 2016.
O Ministério das Relações Exteriores russo rechaça a acusação. “A disseminação de desinformação pelo Ministério das Relações Exteriores britânico é mais uma evidência de que os países da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], liderados pelos anglo-saxões, estão aumentando as tensões em torno da Ucrânia”, afirmou a pasta em comunicado.
Além dos alertas sobre conspirações russas dos Estados Unidos e do Reino Unido, a inteligência militar ucraniana declarou recentemente que Moscou destacou centenas de mercenários para duas regiões rebeldes do leste ucraniano. Em novembro passado, o presidente Volodymyr Zelensky anunciou que a inteligência ucraniana havia descoberto um plano de golpe apoiado pela Rússia. envolvendo um proeminente oligarca local.
Rússia pode tomar Carcóvia
Usando como pretexto a “familiaridade”, a Rússia pode tentar tomar alguns territórios ucranianos usando como justificativa a “proteção” à população de língua russa. Em particular a Carcóvia, que abriga a cidade de mesmo nome, uma das maiores do país e antiga capital. “Será o início de uma guerra em grande escala”, disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, conforme noticiou a agência estatal Ukrinform.
“Se a Rússia decidir intensificar a escalada, é claro, eles vão fazer isso nos territórios historicamente habitados por pessoas com laços familiares com a Rússia. Carcóvia, que está sob controle do governo ucraniano, pode ser ocupada. A Rússia precisa de um pretexto. Eles dirão que estão protegendo a população de língua russa”, disse ele em entrevista ao jornal The Washington Post.
O líder ucraniano acrescentou que, após a ocupação e anexação da Crimeia, “entendemos que isso é possível e pode acontecer”.
Zelensky também foi questionado se Putin tentaria estabelecer um governo controlado pelos russos na Ucrânia, o que classificou como “impossível”. “Mesmo se o fizerem, este seria o governo de vida mais curta, porque as pessoas simplesmente não o aceitarão. Talvez Putin pense que a maioria dos ucranianos apoie ele e suas políticas. Acho que é um grande erro pensar assim”, ponderou.