Inteligência ucraniana diz que 127 mil soldados russos estão prontos para invasão

Em meio à escalada de tensão, incursão russa ao país vizinho "é quase inevitável", de acordo com especialista

Agências de inteligência da Ucrânia alertam que a Rússia já tem “quase completo” o destacamento de tropas ao longo da fronteira, e a invasão parece prestes a acontecer. Segundo aponta a mais recente análise feita pelo Ministério da Defesa ucraniano, Moscou já posicionou mais de 127 mil soldados na região, relatou o jornal The Hill com base em informações obtidas pela rede CNN.

Além disso, o relatório diz que 3 mil militares russos estão estacionados em território rebelde, embora o Kremlin negue que o país possua combatentes no leste da Ucrânia. Mais de 35 mil insurgentes naquela região da Ucrânia, Donbass, são apoiados pelo governo russo, observou a emissora norte-americana.

Na quarta-feira (19), durante visita a Kiev, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, fez o alerta de que a Rússia poderia lançar um novo ataque à Ucrânia em um “prazo muito curto”, após ter pedido ao presidente Vladimir Putin que escolha a “via pacífica”. De lá ele seguiu para Berlim, onde sentou-se à mesa com representantes do Reino Unido, França e Alemanha para debater a situação.

Blindado do exército da Rússia em exercício perto da fronteira com a Ucrânia (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

A etapa seguinte do esforço diplomático dos EUA para evitar a guerra ocorreu nesta quinta-feira (20), quando Blinken encontrou em Genebra o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov. Segundo Vladimir Frolov, um ex-diplomata e analista de política externa russo ouvido pelo jornal National Post, a reunião foi “provavelmente a última parada antes do acidente de trem”.

A Rússia alega que a tensão com os vizinhos é vertiginosa e ainda aguarda uma resposta por escrito dos EUA às suas amplas demandas por garantias de segurança do Ocidente.

Moscou também enviou tropas para Belarus, movimentação que que classifica como “exercícios militares conjuntos“. A medida daria a opção aos russos de atacarem os vizinhos pelo norte, leste e sul. Tais intenções são rechaçadas pelos comandados de Putin.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, jogou a culpa pelas tensões para o outro lado da fronteira, alegando que entregas de armas pelas mãos do Ocidente para a Ucrânia, manobras militares e voos de aeronaves da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) são os responsáveis pelo cenário turbulento.

“Acho que salvo uma rendição dos EUA e a entrega da Ucrânia à Rússia, algum tipo de opção militar é quase inevitável agora”, aposta Frolov.

O governo Biden aprovou no mês passado um recurso de US$ 200 milhões adicionais como medida de segurança defensiva à Ucrânia. Em 2021, Washington enviou mais dinheiro do que em qualquer momento desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

Especialistas calculam que a Rússia tenha entre 70 mil e 100 mil soldados nas proximidades da Ucrânia, sendo necessária uma força de 175 mil para invadir, além de mais combustível e munição. Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam o país vizinho pela Crimeia e por Belarus.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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