Otan usa criatividade matemática para elevar gastos militares e agradar Donald Trump

Aliança quer somar infraestrutura e cibersegurança às despesas de defesa para alcançar meta de 5% do PIB de cada membro

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) está prestes a adotar uma manobra contábil para inflar os gastos militares dos países-membros e atender à exigência do presidente dos EUA, Donald Trump. A proposta, debatida na quinta-feira (5) em Bruxelas, prevê que cada país possa incluir no orçamento de defesa investimentos em infraestrutura, cibersegurança e outras áreas consideradas “relacionadas à segurança”. As informações são do jornal The Washington Post.

A proposta foi apresentada pelo secretário-geral da aliança, Mark Rutte, durante reunião com ministros da Defesa dos países-membros. A fórmula prevê que 3,5% do PIB (produto interno bruto) sejam investidos diretamente nas Forças Armadas — em armas, soldados e equipamentos — e 1,5% em itens “relacionados à defesa”, como estradas adaptadas para tanques ou sistemas de proteção digital.

A mudança também atende ao desejo de alguns aliados de contabilizar a ajuda militar já enviada à Ucrânia, em um momento de crescente a incerteza sobre o futuro do apoio americano. “A aliança vai garantir que o novo plano de investimentos não prejudique a forma como nossos aliados estão ajudando a Ucrânia”, afirmou Rutte.

Representantes de países da Otan, março de 2025 (Foto: Nato/Flickr/divulgação)

Atualmente, 23 dos 32 países da Otan já cumprem ou superam a meta vigente de 2% do PIB em gastos com defesa, e quase todos esperam alcançar esse patamar até o fim do ano. Mas países como Espanha, mais afastados da fronteira russa, resistem a um salto nos investimentos. Já os vizinhos do Báltico e do Leste Europeu estão entre os que mais ampliaram seus orçamentos militares.

Cinco por cento é a nossa mensagem e vamos cumprir”, declarou o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, após o encontro. Segundo ele, a maioria dos países demonstrou disposição em ampliar seus investimentos. “Há alguns países que ainda não chegaram lá… Vamos levá-los até lá”, disse.

O aumento nos gastos, porém, não está apenas ligado às exigências de Trump. O temor de que os EUA deixem de ser um parceiro confiável em meio à agressividade crescente da Rússia tem levado aliados a reforçar suas próprias capacidades. Nesta semana, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou que aceitou as recomendações de uma revisão estratégica para construir novos submarinos de ataque, fábricas de munição e ampliar os estoques de armas de longo alcance.

O debate sobre o que deve contar como gasto militar continua nos bastidores, mas o impulso político é claro: oferecer a Trump um anúncio de impacto na cúpula e reforçar o compromisso europeu com a defesa diante da ameaça russa.

Caso adotada, a mudança levará os gastos militares anuais da Otan a cerca de US$ 2,4 trilhões (R$ 13,4 trilhões). O plano deve ser oficializado na cúpula de líderes da aliança marcada para 24 e 25 deste mês, na cidade de Haia, na Holanda.

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