Na terça-feira (11), o Departamento de Estado dos EUA anunciou a suspensão da proibição de fornecer armas e treinamento para uma unidade militar ucraniana controversa, embora tida como crucial para a defesa da cidade portuária de Mariupol. Trata-se da Brigada Azov, uma milícia ultranacionalista que foi integrada à Guarda Nacional da Ucrânia. As informações são da agência Associated Press.
Os membros atuais da Brigada negam veementemente as acusações de extremismo e qualquer associação com movimentos de extrema direita. No entanto, o Kremlin tem utilizado as origens do regimento em seus esforços para retratar a invasão russa como uma luta contra a influência nazista na Ucrânia.
O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, criticou fortemente a decisão de Washington, chamando a Brigada Azov de uma “unidade armada ultranacionalista” e acusando as autoridades americanas de “flertar com neonazistas”.

A legislação norte-americana proíbe o fornecimento de equipamento e treinamento para unidades militares estrangeiras ou indivíduos suspeitos de violações dos direitos humanos. Em resposta, o Departamento de Estado declarou que não encontrou “nenhuma evidência” dessas infrações.
Em seu perfil oficial no Instagram, a Brigada Azov manifestou que este é um “novo capítulo em sua história”. A publicação afirma que os homens da unidade militar estão se tornando “mais poderosos, profissionais e representam uma ameaça ainda maior” para os ocupantes.
O comunicado ainda destacou que o recebimento de armas e treinamento ocidentais dos Estados Unidos não só aumentará a capacidade de combate da Brigada Azov, mas também contribuirá para “preservar a vida e a saúde de seu pessoal”.
Antes da decisão do Departamento de Estado dos EUA, a milícia estava proibida de participar de exercícios militares no Ocidente e de acessar armamentos comprados com financiamento de Washington. A revogação dessa proibição, segundo a reportagem, deverá fortalecer sua capacidade de combate durante o conflito contra a invasão russa, ajudando a enfrentar a escassez contínua de munições e pessoal na Ucrânia.
Antes da invasão russa à Ucrânia em 2022, a ONG Human Rights Watch (HRW) citou preocupações sobre a Brigada Azov, trazendo alegações de abusos por seus combatentes. Quem também reforça esse discurso é Moscou, que rotineiramente acusa a unidade militar de nazismo e atrocidades, porém, oferecendo poucas evidências. Em 2022, o tribunal superior da Rússia classificou oficialmente a Brigada Azov como um grupo terrorista.
Soldados da Brigada Azov foram cruciais na defesa de Mariupol, resistindo ao cerco e à escassez de munição durante os ataques russos em 2022. Considerados heróis na Ucrânia, eles defenderam o complexo industrial de Azovstal. A resistência dos soldados ao exército de Vladimir Putin no entorno da imensa siderúrgica tornou-se um dos símbolos do conflito.
Relação antiga
A relação entre o Azov e as forças de segurança de Kiev não é nova. Anteriormente, o grupo foi incorporado à Guarda Nacional Ucraniana no intuito de formalizar a hierarquia do exército sobre os paramilitares que lutaram contra os separatistas apoiados pela Rússia na guerra no Donbass em 2014. O Batalhão ganhou fama, por exemplo, ao liderar a batalha para recuperar a cidade portuária de Mariupol no conflito do leste.
Em 2022, ano que a invasão russa teve início, o presidente Volodymyr Zelensky aprovou uma lei, que vigora desde o início de janeiro e formaliza a criação de organizações de defesa escoradas na população civil. Ainda em 2021, o exército deu início ao processo de preparação com treinamento voluntário. Tudo para evitar que se repita o que houve na Crimeia, anexada pela Rússia sem maior resistência ucraniana, e nos primeiros anos da guerra de Donbass.