ONG pede ao novo presidente do Irã que acabe com o abuso aos ‘correios de fronteira’

Os kulbars, também conhecidos como "correios de fronteira", carregam pesadas cargas de mercadorias em suas costas, percorrendo terrenos acidentados e montanhosos

As autoridades iranianas sob o novo presidente devem parar de usar força excessiva e letal contra os kulbars, também conhecidos como “correios de fronteira”, trabalhadores principalmente de origem curda que transportam mercadorias através das fronteiras montanhosas do Irã com o Iraque e a Turquia. O pedido foi feito nesta semana pela ONG Human Rights Watch (HRW) e o Centro de Apoiadores dos Direitos Humanos (CSHR).

Masoud Pezeshkian, recém-eleito presidente do Irã, declarou durante sua campanha em Sanandaj, em junho de 2024, que é vergonhoso que os jovens precisem se envolver em kulbari (transporte de mercadorias na fronteira) em troca de “um pedaço de pão”, e que é necessário estabelecer “uma fronteira que facilite o comércio, não o kulbari”.

Apenas três dias após a eleição de Pezeshkian, cinco entregadores de fronteira foram baleados em Nowsud, na província de Kermanshah, resultando na morte de um deles, conforme relatado pela ONG Kurdistan Human Rights Network.

Kulbars (Foto: IranHumanRights.org/Reprodução)

Os kulbars carregam pesadas cargas de mercadorias em suas costas, percorrendo terrenos acidentados e montanhosos. Eles fazem isso para ganhar a vida em áreas onde poucas outras oportunidades de emprego estão disponíveis. A atividade é extenuante e arriscada, tanto pelo terreno quanto pelas condições climáticas adversas.

“Comunidades curdas marginalizadas frequentemente se veem obrigadas a transportar mercadorias através da fronteira, legalmente ou não, devido à falta de outras oportunidades econômicas”, afirmou Nahid Naghshbandi, pesquisador interino do Irã na Human Rights Watch. “O novo presidente, Pezeshkian, deve priorizar a melhoria do tratamento estatal às minorias, incluindo as comunidades curdas na fronteira”.

Em 8 de julho de 2024, a HRW e a CSHR divulgaram investigações sobre as graves violações das autoridades iranianas contra os correios de fronteira curdos. Os relatórios destacam como esses correios refletem falhas do governo nas regiões de fronteira do Irã. Em face da pobreza, esses entregadores enfrentam perigos constantes, como terrenos difíceis e o uso de força letal pelas forças de segurança iranianas, alegando que estão engajados em contrabando.

A pesquisa da CSHR e da Human Rights Watch revela que os correios de fronteira curdos são um reflexo das falhas sistêmicas do governo nas regiões de fronteira subdesenvolvidas do Irã. Motivados pela pobreza, esses correios enfrentam constantes perigos, como terrenos difíceis e o uso de força letal pelas forças de segurança iranianas.

O uso excessivo e letal da força pelas autoridades iranianas contra os entregadores de fronteira tem causado consequências devastadoras. Relatórios da Agência de Imprensa do Curdistão (Kurdpa) indicam que, no primeiro semestre de 2024, 33 entregadores de fronteira curdos foram mortos e 254 ficaram feridos, incluindo 14 crianças, a maioria delas baleadas pelas forças de segurança. Desde 2011, a Kurdpa documentou 2.463 mortes e ferimentos entre entregadores nas regiões curdas do Irã.

Os kulbars operam em uma área cinzenta legal, já que o transporte de mercadorias pode ser visto como contrabando. A falta de regulamentação clara e de proteção legal torna sua atividade ainda mais perigosa.

O governo iraniano tem sido criticado por não abordar as necessidades econômicas das comunidades curdas e por permitir que a violência contra os kulbars continue impune.

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