O Exército de Libertação Popular (ELP), da China, realizou nesta segunda-feira (14) uma grande manobra militar no entorno de Taiwan, incluindo uma simulação de bloqueio de portos e outras áreas importantes da ilha. O governo chinês disse que o exercício, já encerrado, foi “um alerta firme contra os atos separatistas das forças de independência de Taiwan”.
De acordo com o Comando do Teatro Oriental do ELP, os exercícios “Joint Sword-2024B” ocorreram no Estreito de Taiwan e em áreas ao norte, sul e leste da ilha. “É uma operação legítima e necessária para salvaguardar a soberania do Estado e a unidade nacional”, disse Bejing através de um comunicado parcialmente reproduzido pela agência Reuters.
O exercício envolveu navios e aviões e atingiu nove áreas no entorno de Taiwan, com as forças chinesas se aproximando da ilha em “diferentes direções”. Uma bloqueio de portos taiwaneses e outras áreas importantes foi simulado, bem como um ataque direcionado a alvos marítimos e terrestres.

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão por parte do ELP para anexar formalmente o território taiwanês.
Exercícios como o desta segunda são frequentes, e o bloqueio da ilha é uma hipótese levantada inclusive por analistas. Seria uma forma de a China sufocar Taiwan sem necessariamente iniciar uma guerra, jogando para os aliados ocidentais a decisão de abrir fogo ou não.
O bloqueio, se colocado em prática, aceleraria o consumo de materiais essenciais, levando a ilha ao colapso. Não há estudos sobre o quão rápido o país conseguiria reagir à crise ou qual a capacidade de sobrevivência dos estoques de mantimentos, como água e alimentos, bem como de equipamentos de guerra.
O rompimento deste bloqueio, porém, seria difícil, segundos relatórios de governos estrangeiros e entidades independentes. Como Beijing tem atualmente a maior Marinha do mundo e a principal Força Aérea da região, seria uma missão árdua romper as barreiras.
Um documento lançado pelo governo taiwanês em 2020 pontuou que, diferente do bloqueio, a invasão criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Avaliação semelhante à do almirante Karl Thomas, veterano oficial da Marinha norte-americana ouvido pelo The Wall Street Journal em setembro de 2022. Para ele, bloquear a ilha surge como uma opção menos danosa e igualmente efetiva.
“Eles têm uma Marinha muito grande. Se quiserem intimidar e colocar navios em Taiwan, podem fazer isso”, disse o militar na ocasião, concordando que a ação não letal colocaria as nações ocidentais, sob a liderança dos EUA, em uma encruzilhada quanto à melhor forma de punir a China.
Embora Washington mantenha oficialmente a posição de ambiguidade estratégica, sem deixar claro se enviaria tropas à ilha em caso de invasão, o presidente Joe Biden disse em mais de uma ocasião que suas Forças Armadas defenderiam Taiwan de uma invasão. No caso do bloqueio, porém, um contragolpe militar torna-se improvável.
Resposta ocidental
O governo norte-americano se manifestou sobre as manobras desta segunda e se disse “seriamente preocupado”. “Continuamos monitorando as atividades da RPC (República Popular da China) e coordenando com aliados e parceiros em relação às nossas preocupações compartilhadas”, disse o porta-voz do Departamento de Estado Matthew Miller, citado pela revista Newsweek.
A manobra militar chinesa foi igualmente condenada pelo governo de Taiwan, que a classificou como “irracional e provocativa”. De acordo com a rede Radio Free Asia (RFA), o Ministério da Defesa Nacional taiwanês disse ainda que enviaria “forças apropriadas para responder e defender nossa soberania nacional”.
O gabinete do presidente Lai Ching-te disse, ainda, que a China deveria “enfrentar o fato da existência da República da China”, citando o nome oficial de Taiwan. “A China deve cessar suas provocações militares que minam a segurança regional e respeitar o modo de vida democrático e livre do povo taiwanês”, disse.
*a matéria foi atualizada com a informação de que as manobras já foram encerradas