Sem gás e com rede elétrica à beira do colapso, Transnístria enfrenta cenário dramático

Região separatista enfrenta apagões e frio intenso após o corte de gás pela Rússia, em meio a tensões com Moldávia e Ucrânia

A Transnístria, uma região separatista que declarou independência em 1992, localizada na fronteira entre a Moldávia e a Ucrânia, enfrenta uma grave crise energética que ameaça deixar seus habitantes completamente sem aquecimento e eletricidade durante o rigoroso inverno europeu. O cenário, que envolve disputas políticas e financeiras entre a Moldávia, a Rússia e a Ucrânia, expõe a vulnerabilidade de uma região que depende quase integralmente de Moscou para sua sobrevivência. As informações são do The Moscow Times.

Desde 1º de janeiro, o fornecimento de gás para a Transnístria foi drasticamente reduzido, consequência de uma disputa financeira entre a Rússia e a Moldávia, agravada pela decisão da Ucrânia de encerrar um acordo de trânsito de gás. A Gazprom, gigante energética russa, afirma que a Moldávia deve mais de US$ 700 milhões em dívidas, enquanto o governo moldavo contesta o valor, afirmando que a dívida real é de apenas US$ 9 milhões.

Rede elétrica na Transnístria (Foto: WikiCommons)

A redução no fornecimento de gás deixou a população da Transnístria sem aquecimento e água quente em um dos períodos mais frios do ano. Com temperaturas próximas de zero, os moradores foram forçados a recorrer a medidas improvisadas, como o uso de lenha e aquecedores elétricos, o que aumentou consideravelmente a demanda por eletricidade.

Essa pressão adicional está colocando a já envelhecida rede elétrica da região, construída na era soviética, à beira do colapso. Vadim Krasnoselsky, líder da Transnístria apoiado por Moscou, alertou para a possibilidade de falhas catastróficas na principal usina elétrica da região, que está operando acima de sua capacidade.

“Se enfrentarmos um mau funcionamento ou um incêndio na usina, ficaremos completamente sem eletricidade, e então um cenário muito ruim se apresentará”, disse Krasnoselsky em um discurso divulgado em suas redes sociais.

Troca de acusações entre os governos

A crise energética expôs as tensões entre a Rússia, a Moldávia e a Ucrânia. Moscou acusa a Moldávia e a Ucrânia de criar instabilidade na Transnístria e de tentar minar a confiança dos moradores locais no Kremlin. A embaixada russa em Chisinau afirmou que a crise foi causada principalmente pela disputa financeira com a Moldávia, mas acusou a Ucrânia de agravar a situação ao interromper o trânsito de gás.

Por outro lado, o governo moldavo aponta a Rússia como responsável direta pela crise. Segundo o primeiro-ministro moldavo, Dorin Recean, a suspensão do fornecimento de gás pela Gazprom é uma tentativa de Moscou de desestabilizar a região e influenciar as eleições parlamentares moldavas, previstas para o próximo outono. “A Rússia poderia facilmente fornecer gás por meio do gasoduto TurkStream, mas opta deliberadamente por não fazê-lo”, afirmou Recean em entrevista coletiva.

Impacto na população

Com o fornecimento de energia cada vez mais instável, apagões rotativos foram implementados na Transnístria, enquanto fábricas e escolas foram fechadas. A principal usina de energia da região passou a operar com carvão, mas os estoques devem durar apenas até o final de janeiro, segundo autoridades moldavas.

O governo local distribuiu lenha gratuitamente para os moradores e emitiu orientações para economizar energia. As recomendações incluem o uso de roupas quentes, reunir as famílias em um único cômodo e fechar portas e janelas com cortinas e cobertores para manter o calor.

Apesar dessas medidas, a situação permanece crítica. A Moldávia, que deixou de depender do gás russo ao diversificar suas fontes de energia com a ajuda da Romênia, também enfrenta desafios. O país importou eletricidade da Romênia para compensar a crise, mas o custo elevado deve impactar os consumidores. A expectativa é de que os preços quase dobrem, e o governo moldavo já solicitou apoio financeiro da União Europeia (UE) para ajudar as famílias a lidar com os aumentos.

O papel estratégico da Transnístria

Internacionalmente reconhecida como parte da Moldávia, a Transnístria declarou independência no início dos anos 1990, após o colapso da União Soviética, e depende economicamente do apoio russo. A Rússia mantém cerca de 1.500 tropas estacionadas na região, justificando sua presença como uma medida para “manter a paz”.

Analistas afirmam que a crise atual reflete não apenas disputas energéticas, mas também uma luta geopolítica mais ampla na Europa Oriental. Enquanto a Moldávia busca se aproximar da União Europeia, a Rússia tenta manter sua influência na região por meio de estratégias econômicas e políticas.

Com a chegada do inverno, a situação na Transnístria deve continuar sendo um teste para a resiliência da população local e para as relações diplomáticas entre os países envolvidos.

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