Um relatório divulgado nesta semana pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) alerta para o uso crescente da pena de morte na Coreia do Norte, inclusive contra pessoas flagradas assistindo ou compartilhando filmes e novelas estrangeiros. As informações são da BBC.
O documento, baseado em mais de 300 entrevistas com fugitivos do regime, descreve um cenário de maior vigilância, trabalhos forçados e restrições severas às liberdades individuais. Segundo a ONU, desde 2015 pelo menos seis novas leis ampliaram a aplicação da pena capital. Execuções públicas por fuzilamento passaram a ser usadas como forma de intimidação.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou que, se nada mudar, os norte-coreanos continuarão a enfrentar “sofrimento, repressão brutal e medo”.
Entre os relatos reunidos estão casos de jovens executados por consumir conteúdo sul-coreano e de órfãos recrutados para trabalhos pesados em brigadas de choque. Ex-prisioneiros relataram mortes por maus-tratos, excesso de trabalho e desnutrição. O relatório também aponta a permanência de pelo menos quatro campos de prisioneiros políticos em operação.
A ONU recomenda que a situação seja encaminhada ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. No entanto, a medida depende de aprovação do Conselho de Segurança, onde China e Rússia têm bloqueado novas sanções contra Pyongyang desde 2019.
Na semana passada, Kim Jong-un esteve em Beijing ao lado dos presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin, em um desfile militar que sinalizou apoio tácito de China e Rússia ao regime norte-coreano.
Anti-doramas
A Coreia do Norte teria executado aproximadamente 30 estudantes adolescentes em 2024 por assistirem K-dramas, conhecidos pelo público brasileiro como “doramas”, séries televisivas famosas em todo o mundo por suas tramas envolventes e representação da cultura da Coreia do Sul.
Pyongyang afirma que cultura pop da Coreia do Sul “corrompe as mentes” da população do Norte. E há medidas legais para censurá-la. A Lei de Ideologia Reacionária e Rejeição da Cultura, implementada na Coreia do Norte em 2020, proíbe a população de distribuir, assistir ou ouvir qualquer conteúdo cultural considerado anti-socialista. As violações dessa lei podem levar a severas punições, incluindo anos de trabalhos forçados para pequenas quantidades de material proibido e até a pena de morte para quantidades maiores.