VÍDEO: Jovens norte-coreanos são condenados a trabalhos forçados por assistirem a ‘doramas’

Pyongyang afirma que cultura pop da Coreia do Sul, amplamente proibida, 'corrompe as mentes' da população do Norte

Imagens obtidas pela BBC Korean mostram a Coreia do Norte sentenciando publicamente dois adolescentes a 12 anos de trabalhos forçados por assistirem a K-dramas, conhecidos pelo público brasileiro como “doramas”, séries televisivas conhecidas por suas tramas envolventes e representação da cultura da Coreia do Sul. As informações são da rede BBC.

O vídeo, supostamente gravado em 2022 em formato de material didático voltado à controversa educação ideológica do país, mostra os jovens algemados diante de uma multidão em um estádio, enquanto oficiais uniformizados os repreendem por “não refletirem profundamente sobre seus erros.”

O entretenimento sul-coreano, incluindo o popular gênero musical K-pop, é proibido pelo regime do ditador Kim Jong-un. Para o autoritário líder, a cultura pop dos vizinhos do sul “corrompe as mentes dos norte-coreanos”. Apesar dos riscos de punições graves, há norte-coreanos dispostos a consumir as produções do país vizinho, que fazem sucesso no mundo todo.

Korea Drama Festival em Seul, no ano de 2015 (Foto: WikiCommons)

O material em questão, fornecido à BBC pelo Instituto de Desenvolvimento Sul e Norte (Sand, da sigla em inglês), indica uma postura mais rigorosa das autoridades. Distribuído na Coreia do Norte para educação ideológica, o vídeo alerta sobre o perigo de assistir a “gravações decadentes”. Ele inclui propaganda estatal e destaca dois adolescentes de 16 anos, revelando seus nomes e endereços enquanto os acusa de “arruinar seus futuros ao se envolverem com a cultura sul-coreana.”

A cultura pop da Coreia do Sul é descrita em Pyongyang como uma invasão de influências “antissocialistas e não socialistas”, que pode fazer a Coreia do Norte “desmoronar como uma parede úmida” caso não seja controlada. O regime de Kim reprime até mesmo as gírias sul-coreanas disseminadas entre os jovens, incluindo “oppa”, expressão que ganhou fama global pelo vídeo ‘Gangnam Style’, do rapper Psy.

No passado, menores que infringiam a lei eram enviados para campos de trabalho juvenil, em vez de serem detidos, e a punição costumava ser inferior a cinco anos.

Pelo menos sete pessoas foram executadas em público na Coreia do Norte na última década por distribuírem ou assistirem a vídeos de K-pop. A denúncia foi feita em 2021 pelo grupo de direitos humanos Transitional Justice Working Group, com sede em Seul.

Um desertor relatou à BBC que foi obrigado a testemunhar a execução de um homem de 22 anos acusado de ouvir música sul-coreana e compartilhar filmes do Sul. A CEO do Instituto Sand afirmou que Pyongyang vê a disseminação de K-dramas e K-pop como uma ameaça à sua ideologia, pois a admiração pela sociedade sul-coreana pode “enfraquecer o sistema”.

Jovens receberam punição das autoridades norte-coreana em um estádio

O acesso ao entretenimento sul-coreano pelos norte-coreanos começou nos anos 2000, durante a política de “raios de sol” do Sul. A iniciativa, que oferecia ajuda econômica e humanitária ao Norte, foi encerrada em 2010, devido à falta de impacto positivo na avaliação de Pyongyang.

Depois disso, Kim chegou a ter momentos de flexibilidade em relação à cultura estrangeira, liberando a música tema do filme ‘Rocky’ na televisão estatal, por exemplo. Em 2018 ele até convidou as estrelas do Red Velvet, grupo formado só por meninas, para uma visita à capital, Pyongyang, período em que esteve envolto em gestos diplomáticos com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. Mas a repressão voltou com tudo já no ano seguinte, quando suas conversas com o presidente Donald Trump fracassaram e a economia de seu país entrou em recessão.

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