Enquanto o Irã enfrenta sanções internacionais cada vez mais severas, senadores norte-americanos alertaram que o Hezbollah, principal representante do regime iraniano no Oriente Médio, tem recorrido às suas redes financeiras no exterior para sustentar operações ilícitas e expandir sua presença na América Latina, com foco especial na Venezuela.
A preocupação foi tema central de uma audiência no Senado dos EUA sobre Controle Internacional de Narcóticos, realizada na terça-feira (21). Parlamentares republicanos e democratas discutiram como o grupo libanês teria se entrincheirado nas redes criminosas latino-americanas sob a proteção do presidente Nicolás Maduro, que, segundo as testemunhas, oferece “um refúgio seguro” para o Hezbollah, aliado de Teerã. As informações são do jornal The Algemeiner.

De acordo com o pesquisador Marshall Billingslea, do Hudson Institute, “a Venezuela é um porto seguro para o que continua sendo a organização terrorista estrangeira mais letal e perigosa para os Estados Unidos”.
Especialistas relataram que, sob o regime de Maduro, atividades ilícitas como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e emissão de passaportes falsos prosperaram, transformando o país no principal facilitador do Hezbollah na América Latina.
Historicamente, as operações do grupo na região estavam concentradas na Colômbia e na Tríplice Fronteira, área entre Paraguai, Argentina e Brasil, conhecida por sua intensa atividade de contrabando. Mas, com o estreitamento dos laços entre Caracas e Teerã, a Venezuela passou a atuar como centro financeiro estratégico do Hezbollah.
As autoridades norte-americanas afirmam que o grupo financia suas ações por meio de uma rede diversificada de esquemas ilícitos, incluindo lavagem de dinheiro, tráfico de drogas (como a “cocaína negra”), contrabando de carvão e petróleo, comércio ilegal de diamantes, falsificação de dólares, tráfico de cigarros e artigos de luxo.
O senador John Cornyn (republicano do Texas) destacou que “não se trata mais apenas do Oriente Médio, mas de uma organização terrorista se infiltrando no Hemisfério Ocidental sob a proteção de um regime hostil”.
Outros senadores pediram que países como Brasil e México sigam o exemplo de Argentina, Colômbia e Paraguai, que já designaram o Hezbollah como organização terrorista, o que poderia ajudar a interromper suas redes financeiras e conter a influência iraniana.
O Hezbollah foi oficialmente designado pelos Estados Unidos como Organização Terrorista Estrangeira (FTO) em 1997 e, posteriormente, como Grupo Terrorista Global Especialmente Designado (SDGT) em 2001. O Irã, seu principal patrocinador, está na lista de Estados Patrocinadores do Terrorismo desde 1984.
Durante a audiência, o senador Sheldon Whitehouse (democrata de Rhode Island) lembrou que o Hezbollah sempre foi “uma das ferramentas do Irã para desestabilizar e aterrorizar”, atuando em diversas regiões do mundo.
O especialista Matthew Levitt, do Instituto de Política do Oriente Próximo de Washington, explicou que o Hezbollah tem um histórico de recorrer às suas redes da diáspora quando enfrenta dificuldades financeiras. “Se você precisa de muito dinheiro rapidamente, recorre a atividades ilícitas, especialmente ao tráfico de drogas”, afirmou.
Levitt acrescentou que o grupo opera na América Latina há quase cinco décadas, mas que sua presença se intensificou à medida que as sanções econômicas dificultam o envio de recursos do Irã.
A ameaça também preocupa pela proximidade geográfica. Legisladores afirmam que a expansão das operações do Hezbollah representa um risco direto à segurança dos Estados Unidos e requer uma resposta coordenada no continente.
Como parte de sua campanha contra o narcotráfico e redes “narcoterroristas” próximas à Venezuela, o governo Trump aumentou a pressão sobre o regime de Maduro, enviando bombardeiros, navios de guerra e fuzileiros navais ao Caribe. Nas últimas semanas, sete ataques foram realizados contra embarcações suspeitas de transportar narcóticos, e milhares de tropas foram mobilizadas na região.
O secretário de Defesa Pete Hegseth anunciou recentemente a criação de uma Força-Tarefa Conjunta de Combate às Drogas, com o objetivo de “esmagar os cartéis, deter o veneno e manter a América segura”.
Cornyn concluiu a audiência destacando que o objetivo é reavaliar a ameaça crescente. “O Hezbollah pode buscar expandir ainda mais suas redes de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro na América Latina, e é por isso que estamos realizando esta audiência hoje”, afirmou.
Tráfico de drogas e lavagem de dinheiro
Com acesso fácil aos países sul-americanos, o Hezbollah tornou-se uma figura relevante no cenário do narcotráfico regional. Em 2016, o jornal Washington Times publicou uma reportagem segundo a qual o grupo libanês movimentava “toneladas de cocaína” da América do Sul para a Europa.
Michael Braun, ex-chefe de operações da Administração de Repressão às Drogas (DEA, na sigla em inglês) dos EUA, disse à época que o Hezbollah desenvolveu, a fim de viabilizar o faturamento com a droga, o esquema de lavagem de dinheiro “mais sofisticados que já testemunhamos.”
À Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Estados Unidos, Braun reforçou suas impressões, afirmando que a organização libanesa “se transformou em uma hidra com ligações internacionais que grupos como [o Estado Islâmico] e a Al-Qaeda só poderiam sonhar ter.”
De 2016 para cá, pouca coisa parece ter mudado. Em um recente relatório, publicado em dezembro de 2021, o Departamento de Estado norte-americano fez as mesmas acusações de Levitt e Braun há pouco mais de sete anos. Atestou, assim, que o Hezbollah continua agindo livremente no Brasil para financiar suas operações, mesmo após tantas advertências.
“O Hezbollah continua sua longa história de atividades no Hemisfério Ocidental, incluindo a arrecadação de fundos por seus apoiadores e financiadores na região, como na área da Tríplice Fronteira, onde se encontram as fronteiras de Argentina, Brasil e Paraguai”, diz o documento, que relata pequenos avanços conquistados pelas autoridades brasileiras no combate à lavagem de dinheiro.