A condenação do magnata da mídia Jimmy Lai por crimes contra a segurança nacional, anunciada na segunda-feira (15) por um tribunal de Hong Kong, representa um dos momentos mais simbólicos da repressão ao movimento pró-democracia no território desde os protestos de 2019. Aos 78 anos, Lai foi considerado culpado de todas as acusações, incluindo conspiração para publicar materiais sediciosos e conluio com forças estrangeiras. As informações são do The Guardian.
O julgamento, que se estendeu por quase dois anos, é visto por organizações internacionais de direitos humanos como um processo politicamente motivado e um ataque direto à liberdade de imprensa. Para críticos do governo chinês, a sentença consolida o uso da Lei de Segurança Nacional como instrumento para silenciar vozes dissidentes e remodelar o sistema judicial de Hong Kong.

Fundador do jornal Apple Daily, fechado em 2021 após uma ofensiva policial, Jimmy Lai construiu um império empresarial antes de se tornar uma das figuras mais proeminentes do ativismo pró-democracia na cidade. Sua trajetória pessoal, de operário infantil a bilionário, correu em paralelo com a própria história recente de Hong Kong, marcada pela transição do domínio britânico para o controle chinês.
Desde 2020, Lai permanece preso, seja em detenção preventiva ou cumprindo penas relacionadas a protestos anteriores. Com a nova condenação, ele pode ser sentenciado à prisão perpétua. Familiares alertam para o estado de saúde frágil do empresário e temem que ele não sobreviva para ver uma eventual libertação.
Autoridades chinesas afirmam que o julgamento seguiu rigorosamente a lei e rejeitam acusações de perseguição política. Já governos ocidentais, incluindo Reino Unido e Estados Unidos, classificam o caso como um retrocesso democrático e defendem a libertação imediata de Lai, cidadão britânico.
O encerramento do Apple Daily simbolizou, para muitos moradores, o fim da imprensa independente em Hong Kong. No último dia de circulação do jornal, cerca de um milhão de exemplares foram vendidos, em um gesto coletivo de resistência que ganhou repercussão internacional.
Analistas avaliam que a condenação de Jimmy Lai reforça a mensagem de Beijing de que não haverá tolerância a críticas internas ou alianças externas consideradas ameaças à soberania chinesa. Para observadores internacionais, o caso também levanta dúvidas sobre o futuro das liberdades civis em Hong Kong e o papel da comunidade global diante do endurecimento do regime.
Por que isso importa?
Após ser transferido do domínio britânico para o chinês, em 1997, Hong Kong passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Entretanto, apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa de 2019.
A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. O antigo texto vinha sendo usado até março deste ano, quando uma nova lei, ainda mais dura, foi aprovada.
Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território.
O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.
Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada.”