Declarado derrotado militarmente em 2019, o Estado Islâmico (EI) voltou ao centro do debate internacional após uma série de ataques recentes descritos por autoridades como “inspirados” pelo grupo extremista. A expressão, cada vez mais usada por forças de segurança e agências de inteligência, levanta dúvidas sobre o real alcance da organização e o nível atual da ameaça terrorista global. As informações são da NPR.
No auge de sua atuação, o EI controlava extensas áreas do Iraque e da Síria, governando milhões de pessoas e reunindo mais de 40 mil combatentes estrangeiros de cerca de 120 países. A derrota territorial, anunciada pelos Estados Unidos após a morte de seu líder Abu Bakr al-Baghdadi, marcou o fim do chamado califado, mas não significou o desaparecimento da organização.

Segundo especialistas, a principal mudança desde então foi a descentralização. A liderança do grupo se fragmentou, e a atuação passou a depender menos de comandos diretos e mais da disseminação de propaganda ideológica, especialmente pelas redes sociais. Essa estratégia permite que indivíduos ou pequenas células realizem ataques sem ligação operacional comprovada com o núcleo do Estado Islâmico, mas motivados por sua retórica extremista.
Casos recentes reforçam esse padrão. Autoridades australianas classificaram um ataque ocorrido durante uma celebração religiosa em Sydney como terrorismo inspirado pelo Estado Islâmico. Nos Estados Unidos, o FBI também atribuiu a influência do grupo a um ataque com veículo em Nova Orleans que deixou 14 mortos. Em outros episódios, líderes políticos responsabilizaram o EI mesmo sem reivindicação formal de autoria.
Dados do Pentágono indicam que ainda existem cerca de 2,5 mil combatentes do EI ativos na Síria e no Iraque, enquanto operações recentes continuam localizando depósitos de armas e redes de apoio. Para analistas, embora a capacidade militar do grupo tenha diminuído, sua força simbólica e ideológica permanece relevante.
A propaganda segue sendo um elemento central dessa estratégia. Especialistas apontam que conflitos atuais, como a guerra em Gaza, ampliam o alcance do discurso radical ao alimentar sentimentos de revolta e vingança explorados por grupos extremistas. Ainda assim, o número de ataques e tentativas vem caindo, reflexo do monitoramento constante e de prisões preventivas realizadas por agências de segurança.
No Sudeste Asiático, região historicamente associada a grupos afiliados ao Estado Islâmico, pesquisadores afirmam que a presença extremista está enfraquecida. Operações militares nas Filipinas, especialmente após o cerco à cidade de Marawi em 2017, reduziram significativamente a atuação organizada do grupo, restando apenas pequenas células dispersas.
Para especialistas em contraterrorismo, o uso do termo “inspirado pelo Estado Islâmico” reflete uma nova fase da ameaça: menos visível, menos estruturada, mas ainda capaz de provocar violência. O desafio, afirmam, é lidar com um inimigo que perdeu território, mas não desapareceu do imaginário radical que continua circulando pelo mundo digital.
Por que isso importa?
Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.
De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho deste ano, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira recentemente, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.
Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, e isso pode causar um impacto na segurança global conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
Esse cenário permitiu ao EI, particularmente, ganhar uma sobrevida, fazendo uso sobretudo do poder da internet. À medida em que as restrições relacionadas à pandemia diminuem gradualmente, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no grupo fora das zonas de conflito. São ações empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.
Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar a retomada de força da organização.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.