África está à beira de uma crise alimentar sem precedentes, segundo as Nações Unidas

Três quartos dos africanos enfrentam dificuldades para ter uma alimentação saudável, enquanto aproximadamente um quinto está em situação de subnutrição


A África enfrenta uma séria crise alimentar, agravada pela combinação de mudanças climáticas e a pandemia de Covid-19. As alterações no clima têm impactado negativamente a produção agrícola, resultando em dificuldades crescentes para garantir alimentos suficientes. Além disso, a pandemia exacerbou esses desafios, elevando os índices de insegurança alimentar em diversas regiões, mostrou um relatório da Comissão da União Africana e da ONU (Organização das Nações Unidas).

O estudo revela que cerca de três quartos dos africanos enfrentam dificuldades para pagar por uma dieta saudável, e aproximadamente um quinto está subnutrido, enfrentando uma “crise alimentar sem precedentes”, repercutiu a agência Associated Press.

Com uma população de 1,4 bilhão de habitantes, a África enfrenta fome e desnutrição intensificadas pelo conflito na Ucrânia, problemas locais, mudanças climáticas e o coronavírus. O relatório adverte que há um risco iminente de que milhões de pessoas enfrentem uma piora na fome em breve.

Com uma população jovem prestes a dobrar até 2050, a África surge como uma região em rápido crescimento. No entanto, de forma paradoxal, muitas pessoas enfrentam um aumento na pobreza. Surpreendentemente, há quem aplauda golpes de estado liderados por soldados que prometem melhorias na qualidade de vida.

Apesar da riqueza em recursos naturais, a África ainda não conseguiu cumprir sua promessa de eliminar a fome e a subnutrição até 2025.

Uma mulher segura seu bebê desnutrido enquanto aguarda na fila para comer em um campo de deslocados internos (Foto: United Nations Photo/Flickr)

Na África Ocidental e Central, a violência armada tirou milhões de casa, enquanto na África Oriental as mudanças climáticas estão prejudicando os agricultores. Esses problemas tornam difícil para as famílias ter comida suficiente, principalmente porque os preços dos alimentos estão disparando.

O estudo conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, da sigla em inglês), Comissão Econômica das Nações Unidas para a África (Uneca), Programa Alimentar Mundial (PAM) e Comissão da União Africana (CUA) alerta que mais de um bilhão de pessoas na África, o que representa mais de 78% da população, não consegue comprar uma comida saudável.

A crise alimentar atinge mais violentamente as crianças com menos de cinco anos, sendo que 30% delas estão com crescimento comprometido devido à falta de comida, conforme aponta o relatório. O representante regional da FAO para África, Abebe Haile-Gabriel, alerta que a situação está piorando, e os países precisam intensificar seus esforços para atingir o objetivo global de acabar com a fome até 2030.

A ONU também ressalta que a África ainda está sentindo os impactos contínuos da Covid-19. Desde o início da pandemia, mais 57 milhões de africanos ficaram subnutridos, elevando o total para quase 282 milhões no ano passado. É uma realidade preocupante que exige ação imediata para lidar com os desafios alimentares no continente.

O relatório destaca uma piora substancial na fome, especialmente entre 2019 e 2022, durante a pandemia, após um período de melhoria entre 2000 e 2010. Na Nigéria, a maior economia africana, quase 93% dos mais de 210 milhões de habitantes não conseguem pagar uma dieta saudável.

O cenário levanta questionamentos sobre o uso da riqueza do continente pelos governos para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

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