Al-Shabaab ataca base da União Africana na Somália, com relatos de pesadas baixas

Al-Shabaab disse pelo aplicativo de mensagens Telegram que 137 soldados morreram, número não confirmado pelos militares

Militantes do grupo extremista Al-Shabaab, uma facção da Al-Qaeda, atacaram uma base ocupada por forças da União Africana (UA) na Somália. A ação ocorreu no início da manhã desta sexta-feira (26), pelo horário local, e há relatos de pesadas baixas dos dois lados, segundo a rede Deutsche Welle (DW).

A base atacada fica em Bulamarer, a cerca de 130 quilômetros da capital Mogadíscio, e é ocupada sobretudo por soldados das forças armadas de Uganda a serviço da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS).

“Houve um ataque nesta manhã em nossa base por elementos do Al-Shabaab”, disse o vice-porta-voz militar ugandense Deo Akiiki. “As forças ATMIS estão atualmente avaliando a situação de segurança”, acrescentou.

Akiiki não divulgou o número de vítimas, dizendo apenas que baixas pesadas foram registradas durante o confronto entre os insurgentes e os militares.

O Al-Shabaab, por sua vez, usou o aplicativo de mensagens Telegram para confirmar a autoria do ataque e divulgou seu próprio balanço de mortos do lado da UA: 137.

Testemunhas citadas pela agência Reuters sugerem que o grupo extremista assumiu o controle de base após o ataque. “Agora vemos o Al-Shabaab na cidade. Não podemos saber quantos morreram. Não estamos ouvindo nenhum tiro da ATMIS e do governo agora”, disse uma moradora local.

Um comandante militar identificado apenas como Abdullahi reforçou a informação de que o confronto terminou com muitas mortes, sem citar números. “Houve uma batalha feroz por horas. Todos os grupos, incluindo o Al-Shabaab, sofreram pesadas baixas”, disse ele.

Soldados das forças armadas de Uganda em missão da União Africana na Somália (Foto: rawpixel.com)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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