Nas últimas semanas, aumentaram os ataques realizados pelo Al-Shabaab no Quênia, situação que colocou as forças de segurança do país em alerta. O grupo extremista originário da Somália cruzou a fronteira e levou o governo queniano a organizar uma operação de contraterrorismo com a promessa de conter a ameaça. As informações são do site Garowe.
Os alvos dos insurgentes têm sido sobretudo agentes de segurança quenianos, o que levou o Secretário do Interior Kithure Kindik a visitar as regiões mais afetadas. “O governo deve derrotar o Al-Shabaab e todos os extremistas violentos que continuam a ameaçar nossa segurança nacional e desestabilizar comunidades no nordeste do Quênia”, disse ele em discurso à população.
As ações do Al-Shabaab no Quênia, que já não eram raras, aumentaram bastante ultimamente. Elas ocorrem em retaliação ao apoio do governo local à luta contra os insurgentes. As tropas de Nairóbi se juntaram às da União Africana (UA) em 2011 e atualmente estão entre as mais numerosas da missão de paz do bloco, cuja missão é também conter o extremismo islâmico no continente.
Para combater o problema, o governo fortaleceu a segurança na fronteira e nas aldeias e cidades próximas à divisa com a Etiópia. Também diz que melhor equipará seus soldados para “combater efetivamente os terroristas”, sob a promessa de investir US$ 200 milhões em “equipamentos de segurança avançados, incluindo veículos blindados de transporte de pessoal e drones.”
O pior ataque realizado pelo Al-Shabaab no Quênia ocorreu em 2 de abril de 2015, quando 148 pessoas foram mortas na Universidade de Garissa. Os extremistas mantiveram centenas de alunos como reféns e assassinaram os cristãos, libertando somente os muçulmanos.
Já o ataque mais recente ocorreu na segunda-feira (3), quando os insurgentes invadiram um vilarejo e dispararam indiscriminadamente contra população local, matando uma pessoa e ferindo outras duas.
Poucos dias antes, no final de junho, outra ação do Al-Shabaab deixou cinco civis mortos, alguns deles decapitados, no leste do Quênia. Os jihadistas trancaram as mulheres nas casas enquanto assassinavam alguns dos homens, e antes de irem embora ainda roubaram o estoque de comida dos moradores.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio, a capital somali, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia e para outros países fronteiriços.
O grupo, que é vinculado à Al-Qaeda, concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).
Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.
Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.
Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.