Líderes comunitários prometem ajuda humanitária por sexo em Burkina Faso

Mesmo que a promessa quase nunca seja cumprida pelos chantagistas, inúmeras mulheres não têm outra alternativa a não ser aceitar

Líderes comunitários em Burkina Faso são acusados de exigirem sexo ou dinheiro em troca de alimentos fornecidos por entidades de ajuda humanitária. Mesmo que a promessa quase nunca seja cumprida pelos chantagistas, inúmeras mulheres não têm outra alternativa a não ser aceitar, segundo informações do site The New Humanitarian.

“Eu disse ‘sim’ porque estava com medo [de dizer não] e desesperada para entrar na lista [de ajuda alimentar]”, disse uma mulher que pediu para não ser identificada por temer represálias.

A mulher alega que se cadastrou no programa do governo, mas não recebeu nenhum alimento. Então, conheceu um líder comunitário responsável pelo cadastro. Apesar de ter cedido à chantagem, ela afirma que mesmo assim não recebeu alimento. E sequer sabe se foi de fato incluída na lista.

Mulheres selecionam grãos em Burkina Faso, região centro-oeste da África (Foto: UNOCHA/Giles Clark)

Muitas das mulheres entrevistadas admitem que receberam propostas semelhantes. Embora a maioria negue ter cedido à chantagem, quase todas afirmam conhecer alguém que cedeu. A situação, segundo elas, é desesperadora. “Ninguém nunca nos disse o que é necessário para conseguir comida”, disse uma mulher. “Se não estivéssemos falando com você (jornalista) hoje, estaríamos caminhando de um setor a outro tentando encontrar comida”.

Há também aqueles que pedem dinheiro em troca de ajuda. sem outra alternativa, muitas pessoas pagam, mesmo conscientes de que talvez não tenham a contrapartida. Uma mulher confirma ter pagado a um homem que segurava uma prancheta em frente ao que, acredita ela, era um prédio do governo. A comida, como nos casos anteriores, nunca apareceu.

Um agente do governo que atua na região de Kaia admite que um grupo de 13 mulheres informou a ele sobre a chantagem. “Em geral, essas mulheres compartilham esta notícia depois de esperar em vão pela ajuda prometida”, disse ele, que igualmente pediu para não ser identificado. “Ficamos muito infelizes que esses homens estraguem o nome de nossa instituição”.

Hélène Marie Laurence Ilboudo Marchal, ministra da ação humanitária do país, disse estar ciente do problema. “A lei condena essas ações. Todas as pessoas que foram vítimas deste tipo de abuso podem denunciá-lo”, limitou-se a dizer.

Nações Unidas

O principal fornecedor de alimento de Burkina Faso entre os grupos humanitário é o PMA (Programa Mundial de Alimentos), da ONU (Organização das Nações Unidas). O cadastro em Burklina Faso é feito pelo governo, que invariavelmente terceiriza a tarefa a líderes locais.

Questionada sobre a questão pelo site Voice of America (VOA), a ONU deu uma resposta evasiva. “O Governo de Burkina Faso, apoiado pela ONU, tem um número de telefone gratuito para registrar queixas em todos os casos de abuso sexual ou de gênero”, diz o órgão. “Os pontos focais estão disponíveis para detectar qualquer sinal de abuso ou exploração sexual, e os trabalhadores humanitários e outros são treinados em suas responsabilidades e na prestação de contas”.

Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (EI), insurgência que desencadeou uma crise humanitária. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de milhares de tropas francesas e de forças internacionais.

Os ataques de ambas organizações extremistas já resultaram na mortes de mais de 1,5 mil pessoas e forçaram mais de 1,3 milhão a fugirem de suas casas, tornando muitas dessas pessoas dependentes de ajuda humanitária.

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