Após romper com o Ocidente, Níger registra ataque terrorista com seis soldados mortos

Este é ao menos o segundo ataque extremista em dois meses que atinge duramente as Forças Armadas nigerinas

O Níger mostra cada vez mais que terá sérias dificuldades para enfrentar a insurgência jihadista sem o apoio de seus antigos aliados ocidentais, que foram expulsos do país. Na quinta-feira (12), o governo local informou que seis de seus soldados foram mortos em uma explosão perto da fronteira com o Mali, segundo relato do site The Defense Post.

As mortes teriam sido causadas por uma mina terrestre posicionada por extremistas, dispositivo que foi atingido por um veículo de patrulha. Além dos seis soldados mortos, outros ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Defesa, que não revelou quantos se machucaram.

Em resposta, Niamey afirma que realizou uma operação de caça aos insurgentes e conseguiu “neutralizar” dez deles em um ataque aéreo. Parte da operação ocorreu além das fronteiras do país, em território do Mali, de quem o governo nigerino é aliado.

No mês passado, 23 soldados nigerinos já haviam sido mortos em emboscada em Tillaberi, que faz fronteira com o Burkina Faso e o Mali, ambos também sob regimes militares. A região é considerada o novo epicentro da onda jihadista que tomou o Sahel Central.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

Soldado francês em ação pela Operação Barkhane sobrevoa o Níger (Foto: WikiCommons)
Saem EUA e França, entra a Rússia

O Níger foi palco de um golpe de Estado em 26 de julho do ano passado. O general Abdourahamane Tchiani tomou o poder e citou como justificativa a “deterioração da situação de segurança” no país, atingido pela ação de grupos jihadistas. Ele se autodeclarou líder nacional após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

Uma das medidas adotadas por Tchiani ao assumir o poder foi romper o pacto com a França e expulsar do país as tropas que Paris mantinha ali para colaborar com as ações de contraterrorismo. O Níger, então, voltou-se à Rússia, sua nova parceria no setor de segurança.

A aliança, entretanto, não se faz através das Forças Armadas regulares de Moscou, e sim de mercenários. O Wagner Group foi quem primeiro se estabeleceu no continente, mas a organização vem sendo desfeita desde a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.

Outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.

Mas a situação de segurança no Níger não melhorou com os russos no lugar dos franceses. Ao contrário, tende a piorar ainda mais, vez que Niamey também rompeu com os EUA, dizendo que o acordo de segurança firmado entre os dois governos havia sido “imposto unilateralmente” por Washington.

Na visão dos norte-americano, o prejuízo não será somente dos nigerinos, pois o país ocupa uma posição estrategicamente importante no combate ao terrorismo em toda a região do Sahel. A base de Agadez, ocupada pelas forças de Washington, fica em uma área menos volátil e garante acesso fácil também a nações onde a ação extremista é intensa, como os vizinhos Mali e Burkina Faso.

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