Níger diz que matou 30 jihadistas e prendeu quase mil pessoas ligadas ao Boko Haram

Entre os 960 detidos estariam mulheres e crianças que teriam fugido da Nigéria na companhia de indivíduos associados ao grupo radical

O governo do Níger anunciou na última terça-feira (14), através de um programa da TV estatal local, a morte de cerca de 30 insurgentes ligados ao Boko Haram, alvo de uma operação realizada pelas forças armadas locais. As informações são do site The Defense Post.

Além dos mortos, a operação teria levado à captura de aproximadamente 960 pessoas supostamente associadas ao grupo extremista. Entre elas, muitas mulheres e crianças que teriam cruzado a fronteira, provenientes da Nigéria, na companhia de combatentes do Boko Haram.

Embora o resultado tenha sido divulgado somente agora, a operação teria acontecido na semana passada, a partir do dia 7 de março, quando uma patrulha aérea detectou “movimento intenso de pessoas” na região do Lago Chade, perto da fronteira entre Níger e Nigéria.

Devido ao grande volume de pessoas, o exército nigerino teria oferecido uma rendição, mas não obteve resposta positiva. Então, no dia 11 de março, com o trânsito de pessoas ainda intenso na área, teve início o ataque. Os detidos foram entregues a autoridades nigerianas, de acordo com a emissora local.

Os mortos e detidos teriam fugido da floresta de Sambisa devido a um ataque realizado pelos rivais do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), que nos últimos anos tornou-se a facção dominante na turbulenta região.

Boko Haram e seu antigo líder Abubakar Shekau, novembro de 2018 (Foto: Reprodução/Defense Post)

No Níger, a violência aprofunda os desafios de segurança enfrentados pelo presidente Mohamed Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021. Ele substituiu Mahamadou Issoufou, que liderava o governo desde 2011 e deixou o poder após dois mandatos, na primeira transição presidencial pacífica desde a independência da França, em 1960.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP, ambos da Nigéria, que avançam sobre o sudeste do país.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA), mais de duas mil pessoas foram deslocadas pela violência no Níger. São sobretudo mulheres e crianças que deixam suas casas rumo a áreas seguras devido à ameaça de grupos armados.

Por que isso importa?

Os terroristas do Boko Haram lutam para criar um califado islâmico no nordeste da Nigéria. A ação já se espalhou para países vizinhos como CamarõesChade, Níger e Benin, com assassinatos regulares, queima de mesquitas, igrejas, mercados e escolas e ataques a instalações militares.

Ultimamente, porém, o grupo passou a colecionar derrotas. Em junho de 2021, militantes do Boko Haram gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante.

Shekau morreu no dia 19 de maio, em um confronto com jihadistas do ISWAP na floresta de Sambisa. “Shekau detonou uma bomba e se matou”, disse um militar nigeriano à época, em áudio ouvido pelo Wall Street Journal.

Formado por dissidentes do Boko Haram, o ISWAP se afastou de Shekau em 2016 e passou a se concentrar em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive trabalhadores humanitários. Depois da morte de Shekau, informações sugerem que houve uma aproximação entre os dois grupos, algo jamais confirmado oficialmente.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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