Ataque armado contra comboio deixa três funcionários da ONU feridos na RD Congo

Ação foi atribuída a combatentes Mai-Mai, milícias que atuam na proteção de comunidades locais e que enfrentam, outros grupos armados

Um ataque armado feriu três funcionários da Acnur, a agência da ONU (Organização das Nações Unidas) para refugiados, nesta quarta-feira (8), na República Democrática do Congo. A ação foi atribuída a combatentes Mai-Mai, milícias armadas que atuam na proteção de comunidades locais e são acusados de diversos crimes.

Homens armados abriram fogo contra o comboio escoltado por soldados da missão de paz da ONU no país, a Monusco. A ação ocorreu na área de Mambassa, território Lubero, na província de Kivu do Norte, onde a instabilidade é predominante e dezenas de grupos armados operam livremente.

Os três funcionários da Acnur receberam assistência médica de emergência no local. “Eles foram então levados em segurança pela escolta e transportados para o hospital, onde estão recebendo tratamento”, disse um comunicado emitido pela agência da ONU.

Os feridos viajavam em um veículo claramente sinalizado e voltavam para a cidade de Beni, vindos de Kirumba, no sul do território de Lubero. Eles haviam feito o trajeto para “distribuir ajuda a pessoas já deslocadas de suas casas pela violência e a famílias vulneráveis ​​da comunidade anfitriã”, segundo a Acnur.

Milicianos Mai-Mai se rendem a soldados da paz indianos da Monusco, em Lubero, 17 de julho de 2020 (Foto: Wikimedia Commons)

“A Acnur está chocada e indignada com o ataque e apela com veemência ao respeito pelo direito internacional humanitário e aos direitos humanos, para proteger os civis e trabalhadores humanitários da violência e garantir que os perpetradores sejam levados à justiça imediatamente”, disse a agência.

Em um comunicado divulgado por seu porta-voz, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou veementemente a ação e enfatizou que os ataques contra funcionários das Nações Unidas e trabalhadores humanitários “podem constituir crime de guerra”.

Por que isso importa?

O termo Mai-Mai começou a ser usado na década de 1990 para descrever milícias locais organizadas em uma base étnica e engajadas em lutas em torno da proteção de suas comunidades e de seus interesses, como as terras, a economia e o poder político locais. São milícias baseadas nas comunidades em que foram formadas e que atuam contra outros grupos armados, como os militares congoleses e demais grupos rebeldes.

Durante os dois conflitos armados da RD Congo, entre 1996 e 2002, os Mai-Mai estiveram militarmente ativos nas províncias de Katanga, Kivu do Norte e do Sul, Orientale e Maniema. Inicialmente, fizeram parte de uma aliança mais ampla contra o governo congolês. Mais tarde, aturaram em colaboração com o governo congolês em oposição a Ruanda.

As milícias também estabeleceram relacionamentos oportunistas com antigos inimigos, geralmente em troca de pagamento ou armas. Durante todo o período do conflito armado, os Mai-Mai estiveram entre as partes armadas responsáveis ​​por graves abusos dos direitos humanos, incluindo homicídios, estupro, tortura e o uso de crianças- soldados.

Após o acordo de paz de Sun City, em 2002, que encerrou oficialmente o conflito na Rd Congo, alguns grupos Mai-Mai entraram no governo de transição, enquanto outros permaneceram fora do processo de transição e continuaram militarmente ativos em suas localidades.

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