Ataque mais violento em cinco anos mata ao menos cem pessoas na Somália

Dois carros-bomba explodiram na capital do país, Mogadíscio, no mesmo local onde cerca de 50-0 pessoas morreram em um ação em 2017

A explosão de dois carros-bomba em Mogadíscio, capital da Somália, no sábado (29), deixou ao menos cem pessoas mortas, de acordo com o presidente Hassan Sheikh Mohamud. Foi o mais violento ataque terrorista sofrido pelo país africano em cinco anos, após um evento semelhante que matou cerca de 500 pessoas no mesmo local em 2017. As informações são da agência Associated Press (AP).

Além dos mortos, Mohamud afirmou que por volta de 300 pessoas se feriram no ataque. O país tem um dos sistemas de saúde mais deficientes do mundo, o que prejudica o tratamento dos atingidos.

“Pedimos aos nossos parceiros internacionais e muçulmanos de todo o mundo que enviem seus médicos para cá, já que não podemos enviar todas as vítimas para fora do país para tratamento”, disse ele.

A autoria do ataque foi reivindicada pelo Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que intensificou seus ataques no país nos últimos meses em meio a uma contraofensiva anunciada pelo presidente, sob a promessa de derrotar a organização.

Segundo os insurgentes, o alvo era o Ministério da Educação somali, classificado como uma base inimiga. A relevância do ataque, inclusive, levou o Al-Shabaab a mudar sua abordagem, vez que habitualmente não assume a autoria de ações com um grande número de vítimas. Foi assim em 2017, por exemplo.

Ao comentar o ataque de sábado, a facção afirmou que não vai recuar em sua recente ofensiva contra as forças estatais até que consiga impor um governo que siga a lei islâmica. Inclusive, orientou os civis a evitarem as áreas ocupadas por autoridades somalis.

Em setembro, Mohamud havia afirmado que “cada membro do Al-Shabaab é um alvo” ao anunciar uma grande operação de contraterrorismo. “Todo exército Al-Shabaab é um alvo, da mesma forma que estão atacando e matando o povo somali”, disse ele na ocasião.

A luta contra o Al-Shabaab conta com o suporte dos EUA, que recentemente anunciaram o envio de cerca de 500 soldados à Somália. O governo norte-americano havia decidido retirar suas tropas do país durante o governo do presidente Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão.

Explosão causada por carros-bomba em Mogadíscio, Somália, outubro de 2022 (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

O presidente Hassan Sheikh Mohamud deixa claro que a diplomacia de fato não está nos planos, tendo iniciado uma grande ofensiva contra os insurgentes em setembro. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

A ofensiva militar teve início após um ataque realizado pelos extremistas que matou 21 pessoas no Hotel Hayat, na capital Mogadíscio, em 19 de agosto. O hotel atacado era um popular ponto de encontro de autoridades do governo, sendo que dezenas de pessoas estavam no local na hora do evento. Foi o maior ataque do Al-Shabaab no país desde que Mohamud assumiu o poder em junho deste ano.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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