Somália promete atacar Al-Shabaab com ‘todos os métodos que a guerra permite’

Hassan Sheikh Mohamud recomendou à população que fique longe dos territórios controlados pela organização extremista

Hassan Sheikh Mohamud, presidente da Somália, voltou a prometer uma grande ofensiva contra o Al-Shabaab, grupo extremista ligado á Al-Qaeda que há 15 anos trava uma guerra contra as forças do governo central somali. As informações são da revista Barron’s.

“Cada membro do Al-Shabaab é um alvo, todo exército Al-Shabaab é um alvo, da mesma forma que estão atacando e matando o povo somali”, disse o presidente em um discurso na segunda-feira (12), após uma conferência política em Mogadíscio.

Mohamud engrossou o tom contra o grupo terrorista após o ataque que matou 21 pessoas no Hotel Hayat, na capital somali, em agosto. Na semana passada, ele comparou o Al-Shabaab a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Agora, ao reforçar a promessa de confrontar os insurgentes, alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”.

Como parte da ofensiva de contraterrorismo das forças armadas, o governo da Somália informou na segunda-feira (12) que uma grande operação matou mais de cem extremistas nas últimas semanas.

A operação teria contado com a colaboração de milícias armadas regionais que habitualmente se unem às forças armadas no combate aos extremistas. Cidades estratégicas que estavam sob o controle do Al-Shabaab foram retomadas pelos militares, segundo comunicado divulgado pelo governo.

Hassan Sheikh Mohamud, presidente da Somália: luta contra o extremismo islâmico (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda, chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

Militarmente, a luta contra o Al-Shabaab conta também com o suporte dos EUA, que recentemente anunciaram o envio de cerca de 500 soldados à Somália. O governo norte-americano havia decidido retirar suas tropas do país durante o governo do presidente Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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