Al-Shabaab executa sete acusados de servir à inteligência dos EUA na Somália

Washington tem cerca de 500 militares em atividade no país africano, onde colaboram com as forças de segurança locais

O Al-Shabaab, grupo extremista da Somália ligado à Al-Qaeda, é acusado de executar sete homens que a facção acusa de servir à inteligência norte-americana. O episódio ocorreu no sábado (30), em meio a uma onda de violência que começou com uma tentativa dos insurgentes de se instalar na vizinha Etiópia. As informações são do site Garowe.

As tropas norte-americanas estão engajadas na luta contra o terrorismo na Somália e têm cerca de 500 militares em atividade no país africano, onde colaboram com as forças de segurança locais.

De acordo com os jihadistas, três das vítimas teriam compartilhado informações que permitiram aos EUA matar duas importantes figuras do Al-Shabaab em um ataque aéreo de 2020. Na ocasião, Washington confirmou a operação, embora não tenha feito qualquer referência à colaboração de informantes. Um dos outros homens executados seria um soldado do exército nacional somali.

Recentemente, o Al-Shabaab entrou na mira também do governo da Etiópia, vez que membros do grupo teriam cruzado a fronteira para se instalar no país vizinho. Os extremistas alegam que um combatente morreu em território etíope, o que serviu como justificativa para uma série de ações violentas na região fronteiriça.

As forças armadas etíopes, por sua vez, dizem ter matado 243 terroristas, sendo que 22 militares teriam sido vitimados nos confrontos. Somente na segunda-feira (25) passada, as forças de segurança da Etiópia alegam ter matado 85 militantes.

Ataques terroristas na região de fronteira são raros, dada a forte presença militar de tropas da Etiópia, que tem com a Somália um acordo de cooperação no combate ao extremismo.

Supostos membros do Al-Shabaab detidos em maio de 2014 (Foto: União Africana/Tobin Jones)
Por que isso importa?

O Al-Shabbab chegou a controlar a capital da Somália, Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro do país. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Dados apontam que os extremistas estiveram em mais de 400 episódios violentos no país entre julho e setembro do ano passado – o maior número desde 2018.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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