Ataques atribuídos a extremistas islâmicos deixam 28 mortos em Burkina Faso

Aumento da violência em Burkina Faso ocorre no momento em que França acatou um pedido do governo central para retirar suas tropas do país

As autoridades de Burkina Faso anunciaram nesta terça-feira (31) que 28 pessoas morreram em dois ataques atribuídos a extremistas islâmicos ocorridos no dia anterior na província de Comoe, região oeste do país. As informações são do site The Defense Post.

O coronel Jean-Charles Some, que ocupa o cargo de governador regional, afirmou que os corpos de 15 vítimas foram encontrados perto da vila de Linguekoro com marcas de tiros. Essas pessoas teriam sido sequestradas no final de semana quando viajavam em dois micro-ônibus com 24 passageiros a bordo.

“Os passageiros, oito homens e 16 mulheres, foram instruídos a descer. Oito mulheres e um homem foram libertados e orientados a caminhar até Mangodara”, disse o coronel, citando um município a cerca de 30 quilômetros de distância do local do rapto. Então, os veículos foram queimados, e as 15 pessoas foram levadas como reféns.

As outras 13 vítimas foram identificadas como sendo dez policiais, dois membros de uma milícia de auxílio às forças de segurança e um civil. Todos foram mortos em um segundo ataque nas proximidades. Outros cinco agentes de polícia foram feridos e dez estão desaparecidos.

Soldados de Burkina Faso em simulação de ataque terrorista em Uagadugu (Foto: U.S. Army/Divulgação)
Aumento da violência

Um levantamento feito pela agência de notícias France-Presse (AFP) aponta que ao menos 77 pessoas foram mortas somente neste ano em ações de insurgentes ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI).

O aumento da violência ocorre no momento em que o governo da França resolveu acatar um pedido do governo central e retirar suas tropas de Burkina Faso. Paris mantém entre 200 e 400 membros de suas forças especiais no país africano, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.

Sem a França para dar suporte às tropas locais, tende a aumentar a influência da Rússia na nação africana, com a possibilidade de que a organização paramilitar privada Wagner Group assuma o papel de maior parceiro no combate ao terrorismo. Movimentação idêntica ocorreu no vizinho Mali, de onde os militares franceses foram expulsos para dar lugar aos mercenários russos.

Embora Uagadugu insista em negar qualquer acordo com os russos, membros do Wagner Group já foram vistos no país. Inclusive, o governo de Gana chegou a dizer que uma mina seria usada como pagamento aos mercenários em Burkina Faso. No Mali, fontes sustentam que os serviços da organização russa custem US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de facções da Al-Qaeda e do EI, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com cerca de 40% do território nacional fora do controle do governo central. Burkina Faso superou o Mali e o Níger como epicentro da violência jihadista na região.

pior ataque extremista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou nos últimos meses, após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que vinha enfrentando protestos pela forma como lidou com a sangrenta insurgência jihadista. Mais tarde, em setembro, um novo golpe levou a nova mudança no poder, com ais um militar assumindo o governo central. A instabilidade só faz crescer o problema da insurgência.

Para especialistas, os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país. “Os novos ataques sinalizam uma onda crescente de militância no norte de Burkina Faso e levantam preocupações sobre o alcance crescente de grupos terroristas que, sem dúvida, estão dificultando ainda mais o trabalho da junta de proteger o país”, disse Laith Alkhouri, CEO da Intelonyx Intelligence Advisory, uma empresa que realiza análises no setor de inteligência.

Os ataques de grupos extremistas geraram uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugirem de suas casas, com cerca de duas mil mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase cinco milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar, com quase três milhões em situação de insegurança alimentar aguda no país.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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